Essência do líder visionário

Organizações de todos os tipos precisam de líderes com um conjunto mais amplo de habilidades e competências para levá-las ao futuro

Liderança é algo que acompanha o homem desde o início de sua existência. Para sobreviver em condições adversas, o homem sempre se guiou pelos ditames de algum líder. Basta um rápido sobrevoo sobre a história para perceber como os líderes foram fundamentais nos momentos mais decisivos.

Embora nem todos possam ser realçados por uma conduta virtuosa, não há como negar a importância que esse personagem tem nas organizações sociais e, principalmente, nas empresariais. Seja tomando decisões nas horas mais improváveis, seja aglutinando forças divergentes ou apenas servindo de inspiração para seus seguidores, os líderes foram, e continuam sendo, fundamentais para a evolução da espécie humana.

Embora as habilidades e proezas desses homens tenham sido cantadas em verso e prosa ao longo dos tempos, foi com o florescimento da moderna organização empresarial, ocorrido a partir da Revolução Industrial, que a liderança passou a ser tema de estudos mais profundos.

O líder visionário é aquele que sempre enxerga à frente porque sabe que o futuro não é a mera repetição do passado. Mais ainda, sabe que o futuro não é um lugar a ser conquistado, mas sim um lugar que precisa ser criado

Especialistas das mais diversas áreas do conhecimento, como administração, psicologia, economia, teologia, filosofia – apenas para citar algumas – têm se aventurado a estudar esse personagem, procurando encontrar os elementos que o diferenciam das demais pessoas. E nesse universo, é possível encontrar um pouco de tudo, desde os trabalhos que apregoam a liderança como um “dom” inato e, portanto, privilégio de poucos, passando por aqueles que defendem a ideia de que todas as pessoas, de certa forma e em certo nível, são líderes, até os estudos que denotam a liderança como competência profissional e que, portanto, pode ser perfeitamente desenvolvida.

Em linhas gerais, a essência da liderança pouco mudou com o passar do tempo. Ela continua tendo a função de cooptar as pessoas em torno de objetivos comuns. Mas o mundo mudou e mudou muito, principalmente no universo empresarial.

O processo de transformação dos últimos trinta anos foi mais expressivo do que o dos cem anteriores e será ainda mais intenso nos próximos cinco. No contexto organizacional, as mudanças estão ocorrendo de forma avassaladora. Vários fatores contribuem para isso. Em primeiro lugar, a tecnologia. Impulsionadas principalmente pelas inovações tecnológicas, as empresas vivem no mundo do “aqui e agora”, em que quase tudo acontece em tempo real.

Não é mais possível idealizar e conduzir negócios como se fazia num passado recente. A internet e as redes sociais estão dando uma nova dinâmica à vida organizacional, de tal forma que padrões consagrados do passado se transformaram em grandes mitos no presente. A cada dia, precisamos correr mais rápido para, na verdade, não sair do lugar. Colocar a tecnologia a nosso favor parece, portanto, uma excelente alternativa.

O segundo fator é a abrangência. As novas tecnologias que mantêm o mundo conectado estão expandindo as fronteiras dos negócios para além de onde a nossa visão pode alcançar. Dia após dia, as mudanças estendem o campo de jogo e, principalmente, mudam as regras do jogo. É praticamente impossível definir os limites de atuação de uma empresa assim como os limites de seus competidores. Não importa de onde e com o que a empresa opera, ela é constantemente ameaçada por novas possibilidades, ao mesmo tempo em que é exposta a inúmeras oportunidades que surgem de todas as direções. Nesse caso, manter-se conectado é o melhor caminho.

O terceiro fator está baseado nas rupturas. Em um contexto de descontinuidades, tudo aquilo que sabemos e conhecemos hoje pode se tornar supérfluo amanhã. Os consumidores estão mais preparados para exercer seu papel e, portanto, são naturalmente mais exigentes em relação ao atendimento de suas necessidades.

A essência da liderança pouco mudou com o passar do tempo. Ela continua tendo a função de cooptar as pessoas em torno de objetivos comuns

A tecnologia trouxe para eles uma riqueza enorme de dados que lhes permitem comparar preços, pesquisar produtos e se conectar com outros consumidores para alavancar seu poder de decisão. A cada dia, ficam frente a frente com mais informações e, consequentemente, aquilo que hoje os encanta, amanhã vai estar superado. Portanto, inovar é a palavra de ordem.

Mas há outro aspecto a ser destacado. Não é apenas o consumidor que está mudando. Os funcionários e suas expectativas em relação ao novo mercado de trabalho também estão mudando intensamente. Esperam mais de suas atividades de trabalho, querem mais espaço para participar e mais liberdade para criar. De fato, as novas gerações que adentram no mercado de trabalho esperam atuar mais como protagonistas e menos como coadjuvantes.

Diante desse mundo em permanente transformação, surge uma questão crucial: será que as pessoas à frente das organizações estão mudando na mesma velocidade e com a mesma intensidade? Infelizmente, as pesquisas nessa direção mostram que poucos líderes estão, de fato, preparados para enfrentar os novos desafios. Não há, no entanto, como desconsiderar o fato de que, nesse novo cenário, organizações de todos os tipos precisam de líderes com um conjunto mais amplo de habilidades e competências para levá-las ao futuro. Esses são os homens que denominamos “líderes visionários”.

 

Quem ele é?

O líder visionário é aquele que sempre enxerga à frente porque sabe que o futuro não é a mera repetição do passado. Mais ainda, sabe que o futuro não é um lugar a ser conquistado, mas sim um lugar que precisa ser criado. Utiliza o conhecimento como o combustível para atingir o sucesso. É tão consciente de suas fragilidades quanto o é de suas potencialidades. Por isso, é humilde do ponto de vista pedagógico, ou seja, está sempre aprendendo. Nunca desperdiça aquilo que pode obter a partir de uma boa conversa porque, mais do que falar, está sempre pronto a ouvir. Um ponto fundamental: o líder visionário não tem a liderança como o seu principal objetivo, mas sim o que pode obter a partir dela, tanto para ele, quando para aqueles a quem lidera.

Momento de reflexão

Lao-Tsé, filósofo e sábio chinês que viveu no século 14 antes de Cristo, afirmava: “O líder ruim é aquele que as pessoas desprezam. O bom líder é aquele que as pessoas elogiam. O grande líder é aquele sobre quem as pessoas dizem: nós fizemos sozinhos”.

Pense em sua atuação diante das pessoas a quem você lidera. Baseado na afirmação de Lao-Tsé, como você acredita que essas pessoas o vêm?

Os líderes visionários têm um ponto em comum: gostam de pessoas. Sabem que uma de suas principais funções é conhecer as necessidades das outras pessoas e procurar atendê-las. Normalmente, conseguem o que querem porque trabalham para que as outras pessoas também possam conseguir o que desejam. Eles sabem que as necessidades dos outros não são idênticas às suas e que não irão compreendê-las sem ouvir muito. Assim, o líder visionário é aquele preocupado em dar a máxima atenção ao que as outras pessoas pensam, sentem e expressam.

Líderes visionários sabem construir sonhos ambiciosos e desejáveis, porque são convictos de que é a partir da idealização de sonhos que se constrói o futuro. Mas o mais importante: não são egocêntricos. Eles não guardam seus sonhos somente para si, pelo contrário, compartilham sua visão e trabalham intensamente para cooptar as pessoas e fazer dos seus sonhos, os sonhos de todos.
O líder visionário não é, em essência, individualista. Sabe que precisa das outras pessoas e que, apenas a partir de esforços sinérgicos, poderá realizar seus sonhos. Mas ao fazê-lo, ele não se torna o único dono. Sabe reconhecer e valorizar aqueles que lutaram por seu ideal e, acima de tudo, sabe dividir os louros da vitória.

 

A conquista da equipe

Mas os líderes visionários não desenvolvem uma cultura apenas para fidelizar seus funcionários. Eles também atraem aqueles que, direta ou indiretamente, interagem com a sua empresa, como clientes e fornecedores. As pessoas acreditam naquilo que fazem porque suas ações não são superficiais ou enganosas, mas absolutamente verdadeiras. Trabalham exaustivamente com as mãos e a mente, mas à frente de tudo está o coração.

Há um ponto que precisa ser esclarecido: o líder não nasce pronto. Embora algumas características inatas possam favorecer sua formação, o líder precisa ser construído. E não há formula ou receita mágica para isso. Assim como, para aqueles que desejam se tornar um profissional destacado, faz-se necessário muito estudo e experimentação prática, para aqueles que querem se tornar um líder pleno, é preciso muito empenho, dedicação e, principalmente, muita perseverança.

 

Jorge Bertolino Filho, Engenheiro Elétrico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Sócio-diretor da Kwaap, empresa com foco no desenvolvimento pessoal e organizacional. Atuou como diretor administrativo e financeiro em empresas de grande porte nos setores de Tecnologia da Informação, Telecomunicações, Farmacêutica, Transportes e Alimentos. Presta consultoria na área de Gestão, para empresas dos mais variados setores. É professor de Gestão em cursos de Graduação e Pós-graduação (presenciais e A distância). É palestrante em temas, como: Planejamento Estratégico, Marketing, RH, Comunicação, Vendas, entre outros. Autor do livro Motivação, publicado pela editora Alinea.

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