Estudos revelam aumento de automedicação para dormir durante a pandemia

Especialista do Instituto do Sono, Dalva Poyares, afirma que o lockdown e o isolamento social foram responsáveis pela automedicação registrada no período

 Estudos revelam que os problemas de sono aumentaram o consumo de pílulas (automedicação) para dormir, boa parte adquirida sem prescrição médica.

Após duas semanas de confinamento, 74% de 1.005 pessoas que participaram de um estudo1 na França, por exemplo, relataram dificuldades para dormir, muito acima dos 49% registrados na Pesquisa Francesa Barômetro da Saúde de 2017.

Dos entrevistados, 16% disseram usar pílulas para dormir nos últimos 12 meses e 41% afirmaram, portanto, tomar esses medicamentos desde o início do lockdown.

“Um achado interessante deste trabalho científico foi constatar que 72% das pessoas que apresentaram queixa de sono eram jovens entre 18 e 34 anos, uma porcentagem ligeiramente menor à dos idosos, que em 79%”, observa a médica e pesquisadora do Instituto do Sono, Dalva Poyares.

Já na Itália, pesquisadores da Universidade de Perugia2 estudaram um grupo de 30 pessoas com dependências relacionadas ao uso de drogas e álcool que apresentavam, então, maior risco de serem afetadas pelo lockdown.

Por meio da análise de fios de cabelo dos participantes, foi contatada a queda no consumo de heroína, cocaína, ecstasy durante o isolamento físico e social. Os níveis voltaram a subir após o confinamento.

Em contrapartida, o uso de álcool e medicamentos sedativos-hipnóticos (que induzem o sono e diminuem a ansiedade) aumentou e permaneceu elevado mesmo ao final do confinamento.

Alguns problemas

Os pesquisadores concluíram, dessa maneira que, com o lockdown, o grupo mudou o padrão de consumo de drogas e álcool, tendo usado substâncias mais facilmente encontradas.

Mesmo as prescrições de medicamentos sedativos-hipnóticos cresceram desde o início da crise sanitária segundo um estudo3 do Centro Médico Cedars-Sinai, na Califórnia, nos Estados Unidos.

Inicialmente, os pesquisadores observaram um aumento de 0,05 prescrições por 1.000 pacientes entre junho de 2019 de junho a março de 2020.

Então, após um período de estabilização, as prescrições subiram para 0,13 por 1.000 pacientes entre julho e agosto e para 0,21 por 1.000 pacientes no final de setembro.

Curiosamente, enquanto as taxas de prescrição aumentaram, a proporção de novas receitas.

E que também a renovação de receitas autorizadas diminuíram.

Ansiedade e a automedicação para dormir

Os pesquisadores alegaram que os médicos de atenção básica podem ter prescrito receitas únicas para que os pacientes gerenciassem as crises graves de ansiedade.

O estudo concluiu que, antes de prescrever medicamentos, os médicos deveriam ter oferecido aos pacientes alternativas não farmacológicas para prevenir o uso de medicamentos a longo prazo.

“Entre essas alternativas estão a terapia cognitivo-comportamental, a meditação e a higiene do sono”, afirma a médica Dalva Poyares.

Referências

  1. Francois Beck, Damien Léger, Lisa Fressard, Patrick Peretti-Watel, Pierre Verger, The Coconel Group. Covid-19 health crisis and lockdown associated with high level of sleep complaints and hypnotic uptake at the population level. Journal of Sleep Research. https://doi.org/10.1111/jsr.13119
  2. Alessio Gili, Mauro Bacci , Kyriaki Aroni, Alessia Nicoletti, Angela Gambelunghe , Isabella Mercurio, Cristiana Gambelunghe. Changes in Drug Use Patterns during the COVID-19 Pandemic in Italy: Monitoring a Vulnerable Group by Hair Analysis. Int J Environ Res Public Health. 2021 Feb 18;18(4):1967. doi: 10.3390/ijerph18041967.
  3. Michelle S. Keller, PhD, MPH, Elizabeth Kiefer, BBA, Scott Campbell, MD, Kristin Bradley, PharmD, Rachel Mashburn, PharmD, MPH, Mohini Bawa, PharmD, and Caroline Goldzweig, MD, MSHS. Sustained Increase of Sedative-Hypnotic Prescribing During the COVID-19 Pandemic in a Large Urban Health System: an Observational Study. J Gen Intern Med.2021 May 13 : 1–3.doi: 10.1007/s11606-021-06868-5.

Pesquisa aponta que a maioria dos pacientes usa medicamentos de forma errada

Fonte: Instituto do Sono

 

Não se automedique, consulte um profissional de saúde.

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