Adolescentes acima do peso

As estatísticas são alarmantes: cerca de 340 milhões de jovens em todo o mundo são categorizados como obesos, o que acende um alerta para os hábitos de vida deste público

Nas últimas décadas, a obesidade emergiu como uma das maiores crises de saúde mundial e os jovens passam a participar dessas estatísticas: cerca de 340 milhões de adolescentes em todo o mundo são categorizados como obesos, de acordo com dados de 2022 da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Brasil, um recente estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), realizado em colaboração com a organização global Vital Strategies, mostrou que a obesidade entre os jovens de 18 a 24 anos de idade teve um surpreendente aumento de 90% em apenas um ano. A pesquisa indicou que a taxa saltou de 9% em 2022 para 17,1% em 2023, representando quase 3 milhões de jovens brasileiros afetados pela condição.

O Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel), realizado no mesmo ano e que analisou dados de 9 mil indivíduos de diversas macrorregiões brasileiras, confirmou esse acentuado crescimento da obesidade entre os jovens. O dado mais inquietante? A faixa etária dos jovens foi a única a exibir uma alteração significativa em relação à pesquisa do estudo de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) anterior, de 2021.

Problema de múltiplas origens

A questão que se coloca é: como chegou-se a esse ponto? O estudo da UFPel identificou o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados e uma ingestão insuficiente de nutrientes essenciais, provenientes de frutas, verduras e legumes, como os principais fatores.

De acordo com a médica nutróloga e cofundadora da ONG Obesidade Brasil, Dra. Andrea Pereira, a obesidade é resultado de uma combinação de fatores, incluindo genética, ambiente familiar, presença de certos vírus, uso de medicamentos e estilos de vida. A combinação de uma dieta rica em calorias e alimentos ultraprocessados com o sedentarismo pode agravar o problema.

Além disso, a psicóloga e presidente também da ONG Obesidade Brasil, Andrea Levy, menciona que o problema pode estar correlacionado a quadros de depressão e ansiedade. Certos medicamentos prescritos para tais condições podem favorecer o ganho de peso.

A médica pediatra, assistente de unidade e de internação do Hospital Nipo Brasileiro, Dra. Geny Kitazawa, destaca também a contribuição genética. “Se ambos os pais são obesos, as chances de seus filhos também serem dobram”, afirma.

Prevenção de riscos

A obesidade é uma condição médica complexa que envolve um acúmulo excessivo de gordura corporal. Ela afeta mais do que a aparência de uma pessoa, aumenta também o risco de doenças graves. Nos jovens, pode levar a problemas de saúde a longo prazo e afetar a qualidade de vida.

O problema é determinado pelo Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30 kg/cm². Estudos indicam que um adolescente obeso tem, aproximadamente, 80% de probabilidade de continuar com a condição na vida adulta, caso não haja intervenção.

“Portanto, abordar a obesidade na faixa pediátrica é crucial para prevenir a condição na vida adulta, melhorando assim a qualidade e expectativa de vida”, adverte a endocrinopediatra do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dra. Ruth Rocha Franco.

Os riscos vinculados à obesidade são variados. “Essas complicações abrangem desde problemas osteoarticulares até riscos elevados de certos cânceres e complicações cardiovasculares”, pontua a endocrinologista do mesmo Centro, Dra. Tarissa Petry.

O método mais eficaz para perda de peso entre jovens envolve uma dieta balanceada, atividade física e suporte psicológico. “Em quadros de obesidade severa, medicamentos ou mesmo cirurgia bariátrica, sob estrita supervisão médica, podem ser recomendados”, enfatiza o cirurgião bariátrico do Hospital São Marcelino Champagnat, Dr. Caetano Marchesini.

Para o especialista, é vital abordar a obesidade durante a juventude para assegurar saúde no futuro. “Políticas públicas devem priorizar não só o tratamento, mas, sobretudo, a prevenção. Propagar uma dieta balanceada, estimular atividades físicas e garantir um sono reparador são passos fundamentais para prevenir. Além disso, a educação nutricional, tanto escolar quanto no seio familiar, juntamente com políticas públicas de promoção à saúde, desempenham um papel crucial”, argumenta.

A endocrinologista do Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” (CEJAM), Dra. Verônica El Afiouni, compartilha dessa perspectiva. “O tratamento e prevenção requerem abordagens múltiplas. É essencial investir em educação e conscientização e recorrer a medicamentos quando for necessário”, enfatiza.

Foto: Shutterstock
Fonte: Guia da Farmacia

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Edição 371 - 2023-10-01 Mais Conveniência

Essa matéria faz parte da Edição 371 da Revista Guia da Farmácia.