Desafios nutricionais

Mesmo sem enfermidades pré-existentes, boa parte dos brasileiros não segue a alimentação recomendada pelos médicos. Mas quando o corpo sofre por algumas patologias, quadro é agravado e muitos casos exigem nutrição especializada

Nunca se falou tanto na importância da alimentação saudável. Apesar de o tema ser cada vez mais disseminado e assimilado pelos brasileiros, sabe-se que a população continua com índices altos de obesidade, com nutrientes abaixo dos recomendados pelos médicos e com crescimento contínuo do número de acometidos por doenças crônicas como diabetes e hipertensão.

De acordo com o Guia Alimentar da População Brasileira, desenvolvido pelo Ministério da Saúde (MS), nas últimas décadas foram observadas mudanças importantes no padrão alimentar no País, com maior consumo de alimentos de alto valor calórico e baixo teor nutricional e redução na ingestão de alimentos in natura.

Atualmente, 1/3 da população apresenta deficiência de vitaminas e minerais, de acordo com dados da Nestlé. Mas quando se chega à terceira idade, a empresa explica que o quadro se agrava, pois, naturalmente, ocorre uma redução na absorção de alguns nutrientes devido ao processo natural de envelhecimento, que passa a prejudicar a digestão, imunidade, metabolismo, entre outros. Também passam a ser mais comuns a perda de apetite, dificuldade para mastigar e a capacidade de sentir sabores. Juntos, todos esses fatores, aliados a doenças comuns da idade, fazem com que a absorção de nutrientes como vitaminas e minerais fique completamente comprometida nessa fase da vida.

Nutrição diante das doenças

Com o processo natural de envelhecimento, o aparecimento de doenças, principalmente as crônicas como hipertensão e diabetes, acomete cerca de 80% da população idosa, segundo informações da Nestlé. Aliás, a empresa reforça que, junto destas doenças, existe a alta ingestão de medicamentos que, somada com as alterações fisiológicas e biológicas, acaba prejudicando a absorção de nutrientes.

Para esses e outros casos, o mercado disponibiliza uma série de produtos voltados para nutrição especializada nas mais diversas necessidades. “A suplementação pode ser indicada em diversos momentos, que variam desde o ganho de massa muscular até o tratamento de patologias como doenças autoimunes, neoplasias, períodos pré e pós-cirúrgicos, doenças renais, pessoas com desnutrição, idosos, pessoas com alergias alimentares, intolerância à lactose, entre outras indicações”, enumera a nutricionista voluntária do Instituto Horas da Vida, Marcia Tonon.

Compostos importantes para o funcionamento intestinal

Probióticos: são bactérias benéficas que vivem no intestino. Elas ajudam a melhorar a função normal do sistema imunológico intestinal e diminuem o risco de crescimento de bactérias que causam doenças.

Prebióticos: são fibras alimentares que o organismo não consegue digerir, mas que atuam como “alimento” das bactérias probióticas e, desta forma, favorecem o seu crescimento e a função das células do sistema imune intestinal, como, por exemplo, as encontradas no alho, cebola, aveia, cevada etc.

Simbiótico: neste caso, os probióticos e prebióticos estão combinados entre si, como, por exemplo, o frutooligossacarídeo (prebiótico derivado de açúcares vegetais), adicionado a um iogurte (probiótico).

Fonte: nutricionista e gerente científico da Divisão Nutricional da Abbott no Brasil, Patrícia Ruffo

Além dos idosos, as crianças também merecem atenção especial. O desenvolvimento no período escolar, por exemplo, é intenso, e algumas dificuldades alimentares como a neofobia (dificuldade de aceitar novos alimentos) podem limitar a escolha de determinados pratos. “Os complementos alimentares ricos em vitaminas e minerais contribuem para o crescimento e desenvolvimento saudáveis”, afirma o gerente da marca Sustagen, Alan Kirszenwurcel. Já para os adultos, esses produtos podem ser aliados na promoção da saúde e na manutenção do estado nutricional. “Vitaminas e minerais contribuem para o bom funcionamento do sistema imune e outras funções do organismo”, acrescenta.

Acompanhe, a seguir, como o corpo pode ficar nutricionalmente debilitado diante de algumas doenças e quais as principais necessidades em cada caso.

DIABETES

A doença, hoje, na maioria dos casos, é resultado de hábitos alimentares incorretos e com excessos, principalmente, de fontes de carboidratos, segundo sinaliza Marcia, do Instituto Horas da Vida. “Para controlar a glicemia de um paciente, temos de elaborar um plano alimentar com baixo índice glicêmico a fim de oferecer a quantidade suficiente de vitaminas e minerais provenientes dos alimentos. Porém devido ao hábito alimentar já formado erroneamente, no qual não há, na maioria das vezes, o consumo de frutas, verduras, legumes, grãos e castanhas, torna-se comum que haja uma ingestão insuficiente das vitaminas e dos minerais”, justifica.

CÂNCER

Dependendo da fase da doença, especialmente quando avançada, ocorre um catabolismo, que é a perda de peso e desnutrição generalizada. “Essa condição implica na perda de mineiras e vitaminas”, sinaliza a endocrinologista do Hospital 9 de julho, Dra. Roberta Frota. Segundo a nutricionista do Horas da Vida, o tratamento agressivo da doença também pode trazer outras perdas ao organismo. “Não só o déficit de vitaminas e minerais, mas também de macronutrientes como carboidratos, lipídeos e proteína”, acrescenta Marcia.

PROBLEMAS INTESTINAIS

A alimentação ingerida é absorvida no estômago ou intestino (duodeno, delgado ou grosso), e quando há patologias intestinais como doença celíaca, retocolite ulcerativa, doença de Crohn, entre outras, muitos nutrientes não são absorvidos adequadamente. “Pode haver uma carência de componentes, tornando esses indivíduos mais propensos à osteoporose por não absorverem o cálcio adequadamente”, sinaliza a endocrinologista do Hospital 9 de Julho.

OSTEOPOROSE

Com a doença, se o paciente não tiver uma dieta balanceada e com alimentos ricos em cálcio, deve-se buscar auxílio de suplementos. “Há a necessidade de suplementação de cálcio e também de vitamina D”, pontua Marcia.

HIPO OU HIPERTIREOIDISMO

Segundo esclarece a nutricionista, no hipotireoidismo, deve-se trabalhar com a suplementação do iodo, selênio e vitamina D. Já no hipertireoidismo, as necessidades são outras. “Não há a suplementação do iodo, uma vez que esse deve ser evitado. Porém é necessária uma suplementação de vitaminas e minerais, pois é comum ter deficiência dos mesmos no organismo devido ao metabolismo”, sinaliza.

INTOLERÂNCIA À LACTOSE

Caracterizada pela incapacidade do organismo de digerir totalmente o açúcar (lactose) de produtos lácteos, esse é um problema global bastante comum. “Estima-se, no mundo todo, que até 70% da população tenha intolerância à lactose. Segundo pesquisa conduzida pelo Datafolha, 35% da população com idade acima dos 16 anos − cerca de 53 milhões de pessoas −, informam ter desconforto digestivo após o consumo de derivados do leite”, sinaliza o médico pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e pós-doutorado em gastroenterologia pela Universidade de Londres, Dr. Eduardo André. Segundo o especialista, esse público pode apresentar baixos níveis de cálcio, fósforo e vitaminas A, D e B2. “No que se refere à alimentação, antigamente, a essência do tratamento era a restrição de leite e derivados, porém com o avanço da medicina e dos suplementos alimentares já é possível utilizar a enzima lactase para que o paciente continue ingerindo alimentos lácteos e o próprio leite. A utilização desta enzima permite, ainda, alívio de sintomas como diarreia, intestino preso, dificuldade de digestão, gases e dores”, explica o Dr. André.

Suplementos pedem boa exposição e atendimento especializado

LOCALIZAÇÃO ESTRATÉGICA: a exposição da categoria de suplementos adulto e sênior apresenta melhores resultados de sell out quando esses produtos ficam ao lado da gôndola de vitaminas, colágenos ou diet/light, pois possuem maior similaridade de consumo e convergem em algumas funcionalidades/benefícios, além de facilitar a decisão de compra por parte do shopper.

SEPARAÇÃO POR IDADE: outra boa prática relevante é respeitar a ordem de idade do público-alvo para posicionar os suplementos em gôndola. Nesse sentido, inicia-se a sessão com os itens sêniores para proporcionar maior conforto e acesso ao público com mais de 50 anos de idade, ocupando as prateleiras imediatamente abaixo com os suplementos adulto e especiais, respectivamente, oferendo, assim, uma experiência de compra mais adequada.

ORIENTAÇÃO ESPECIALIZADA: vale recomendar que o consumidor procure o auxílio do médico e/ou do nutricionista antes de usar os suplementos para que esses profissionais possam orientá-lo melhor sobre as necessidades nutricionais e introdução de novos alimentos.

ALÉM DO PONTO NATURAL: é importante explorar pontos extras, corredores de alto tráfego e outras áreas que facilitem o cross-merchandising com outros produtos.

ATENDIMENTO CAPACITADO: além da boa exposição, para garantir uma boa experiência de compras ao shopper, manter uma equipe capacitada para o atendimento é fundamental. De modo geral, as principais dúvidas estão relacionadas ao modo de preparo, programa de descontos e formulação. O farmacêutico deve apresentar as instruções de preparo no rótulo e, em caso de dúvidas, procurar o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC).

ADULTOS X CRIANÇAS: no caso específico dos complementos infantis, eles devem ficar separados dos produtos para adultos, por questões de segmentação de público-alvo.

Fontes: gerente da marca Sustagen, Alan Kirszenwurcel; e Nestlé

POLINEUROPATIA AMILOIDÓTICA FAMILIAR (PAF)

Também conhecida como doença dos pezinhos, a PAF é uma doença hereditária rara e degenerativa que causa uma aglomeração de proteínas anormais nos tecidos do organismo, afetando a sensibilidade da pele e causando dores fortes nos membros inferiores e superiores. As principais complicações estão relacionadas ao sistema nervoso periférico (responsável pela transmissão dos estímulos recebidos pelo corpo e pelas respostas a estes estímulos) e autônomo (parte do sistema nervoso que está relacionada ao controle da vida vegetativa, ou seja, controla funções como a respiração, circulação do sangue, controle de temperatura e digestão). Alguns dos sintomas da doença são perda de peso sem motivo aparente, dificuldade na digestão e diarreia, que levam à má absorção de nutrientes, segundo informa a Pfizer.

DOENÇA DE ALZHEIMER

Geralmente, como afeta idosos, que já têm uma ingestão de alimentos diminuída devido a vários fatores, os acometidos por essa enfermidade tendem a uma carência nutricional e calórica maior. “Recomenda-se a suplementação para que a doença não se agrave. Hoje, já estão disponíveis suplementos alimentares específicos para essas pessoas”, explica Marcia.

Produtos que compõem a nutrição especializada

Hoje, existem produtos dirigidos de nutrição especializada para atender às diversas necessidades. A categoria é formada por produtos alimentícios que vão desde cápsulas ou pílulas até compostos desenvolvidos para atenderem às necessidades nutricionais (vitaminas, minerais, calorias, proteínas, carboidratos e lipídeos) dos pacientes, conforme explica a nutricionista voluntária do Instituto Horas da Vida, Marcia Tonon.

“Os principais tipos de suplementos disponíveis são: bebidas hipercalóricas e hiperproteicas; os prebióticos, probióticos, simbióticos; e os polivitamínicos”, diz.

A Abbott, por exemplo, disponibiliza, na linha de nutrição especializada, o Glucerna, que proporciona uma nutrição completa e balanceada, cientificamente desenvolvida para ajudar na redução dos picos de glicose no sangue como parte de um plano de gestão do controle glicêmico. “Os suplementos especializados que auxiliam no controle glicêmico têm um papel muito importante no controle do diabetes, uma vez que 74% das pessoas com a doença não conseguem controlar a glicemia apenas com medicação1”, explica a nutricionista e gerente científico da Divisão Nutricional da Abbott no Brasil, Patrícia Ruffo, acrescentando que outro produto de nutrição especializada da empresa é o Ensure Plus Advance, que contém fórmula especial e exclusiva com nutrientes como o HMB (β-hidroxi-β-metilbutirato). “O composto ajuda a reconstituir a perda muscular e recuperar a força e a energia das pessoas”, exemplifica.

1. Beaton SJ, Nag SS, Gunter MJ, Gleeson JM, Sajjan SS, Alexander DM. Adequacy of glycemic, lipid, and blood pressure management for patients with diabetes in managed care setting [Published correction appears in Diabetes Care. 2004; 27:1855]. DIABETES CARE. 2004;3:694-698. NÃO CONTÉM GLÚTEN. MATÉRIA DESTINADA EXCLUSIVAMENTE AO GUIA DA FÁRMACIA.

Foto: Shutterstock

Contra o tabagismo

Edição 309 - 2018-08-01 Contra o tabagismo

Essa matéria faz parte da Edição 309 da Revista Guia da Farmácia.