Imunidade: Fortalecendo barreiras

A maioria dos brasileiros não possui os níveis adequados de vitamina D, o que torna o sistema imunológico mais vulnerável a diversas enfermidades e os ossos mais propensos a fraturas. Problema é especialmente crítico entre adultos e idosos

Apesar do Brasil ser um país ensolarado, muitos brasileiros enfrentam deficiência de vitamina D, um paradoxo considerando o clima tropical.

A pesquisa Epidemiology of Vitamin D (EpiVida), realizada em colaboração com instituições, como as Universidades Federais do Paraná e de São Paulo, a Fundação Oswaldo Cruz e as Obras Sociais Irmã Dulce, revelou que mais da metade dos participantes (50,7%) tinha níveis baixos de vitamina D, e 15,3% apresentavam deficiência severa.

A carência dessa vitamina no Brasil pode ser atribuída a fatores como a limitada exposição solar diária e a baixa ingestão de alimentos ricos nesse nutriente. “Fontes naturais de vitamina D incluem peixes, como salmão, sardinha e atum, gema de ovo, fígado e cogumelos”, aponta gerente médica em dermatologia de Profuse, Dra. Andrea Bannach.

A deficiência de vitamina D é uma condição frequente em diversos grupos populacionais. Para o geriatra do Hospital Nipo-Brasileiro, Dr. Carlos André Uehara, os mais suscetíveis a essa carência são adultos e idosos, pessoas com tonalidades de pele mais escuras, aqueles que raramente se expõem ao Sol e indivíduos com determinadas condições médicas. Essa variedade de fatores ressalta a necessidade de uma atenção especial para prevenir e tratar a deficiência de vitamina D nessas populações.

Frequentemente assintomática, a deficiência de vitamina D é geralmente detectada por exames de sangue. “Os sintomas, quando presentes, incluem fraqueza muscular, fadiga, dor óssea, oscilações de humor e baixa imunidade”, esclarece a biomédica esteta, Camila Mendes.

Saúde em risco

A falta de vitamina D não só causa sintomas desconfortáveis, mas também favorece o desenvolvimento de problemas de saúde, inclusive doenças ósseas. Segundo o Dr. Uehara, a vitamina D tem um papel essencial na absorção de cálcio e fósforo pelo organismo, sendo fundamental para a formação óssea, e sua ausência eleva o risco de fraturas.

“Adultos com deficiência de vitamina D podem ter redução da densidade mineral óssea, aumentando o risco de osteoporose e fraturas por fragilidade. Em casos severos, pode surgir osteomalácia”, informa a membro da Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro e Reumatologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – UFRJ, Dra. Marcella Andrade.

Sistema imunológico

“A vitamina D é crucial para a imunidade, ajudando o sistema de defesa do corpo a funcionar corretamente e a diminuir reações exageradas, como inflamações”, explica a presidente executiva da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado em Saúde (ACESSA), Marli Sileci. Isso é particularmente importante para adultos e idosos, pois níveis adequados podem prevenir infecções respiratórias e proteger contra doenças autoimunes.

Pesquisas recentes também indicam a importância da vitamina D para a prevenção de doenças imunológicas. “Adultos com níveis adequados têm menor risco de desenvolver esclerose múltipla, e há estudos que sugerem benefícios contra a artrite reumatoide”, acrescenta Marli.

A relação entre a vitamina D e infecções respiratórias, como resfriados e gripes, tem sido também um foco de estudo. “A suplementação de vitamina D pode ajudar na prevenção dessas infecções, mas ainda são necessárias mais pesquisas para confirmar esses benefícios. Além disso, a deficiência de vitamina D pode estar relacionada ao desenvolvimento de doenças autoimunes”, reforça o Dr. Uehara.

Ele ressalta o papel da vitamina D na modulação da resposta inflamatória, essencial para o controle de condições imunológicas. “Apesar de estudos clínicos terem sido realizados para avaliar os efeitos da suplementação em condições específicas, os resultados são variáveis e ainda geram debates”, complementa.

Mitos e verdades

Camila destaca a necessidade de desmistificar crenças sobre a vitamina D. “É um erro pensar que apenas a exposição solar garante níveis adequados dessa vitamina”, diz. Fatores como cor da pele, localização geográfica e uso de protetor solar influenciam a síntese de vitamina D que, em alguns casos, requer suplementação.

Além disso, ela alerta para os riscos da superdosagem. “O consumo excessivo de vitamina D, sendo solúvel em gordura, pode levar a níveis tóxicos no corpo, causando sintomas adversos. Portanto, é fundamental seguir as orientações médicas”, aconselha.

Ela também esclarece que, embora a vitamina D seja benéfica para a saúde óssea e imunológica, não é uma cura para todas as doenças. “Mais estudos são necessários para confirmar seus efeitos na prevenção e tratamento de doenças autoimunes e infecções respiratórias”, analisa.

Contrariamente ao mito, Camila adverte que a alimentação por si só geralmente não fornece quantidade suficiente de vitamina D, especialmente em regiões com menor exposição solar. “A suplementação é recomendada para grupos específicos, mas não é necessária para todos, sendo essencial a avaliação por um profissional de saúde”, conclui.

Fonte: Guia da Farmacia
Foto: Shutterstock

Rumo ao Futuro

Edição - 2024-03-01 Rumo ao Futuro

Essa matéria faz parte da Edição da Revista Guia da Farmácia.