Otimista, brasileiro prevê gastar mais em 2024

Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que 86% projetam ano melhor que em 2023 e apenas 8% acreditam no oposto

O brasileiro está otimista com 2024, e isso deve se traduzir em um potencial de consumo maior. É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva em dezembro e divulgada com exclusividade pelo Valor. Nove em cada dez (86%) afirmaram acreditar em melhoria geral para a sua vida no ano que começa, contra apenas 8% que pensa o contrário. A atitude positiva se espraia entre as diferentes esferas da vida: 82% acreditam que o lado financeiro será melhor em 2024, 79% veem o mesmo para a saúde; 78%, para a vida profissional, e 78%, para a família.

Entre os que iriam fazer promessa de ano novo (67%), 55% afirmam que pretendem comprar um bem ou desejo de consumo. É o segundo item mais citado, depois de saúde (61%), que é, tradicionalmente, a promessa mais comum, ressalta o presidente do Locomotiva, Renato Meirelles.

“É um brasileiro que sai mais otimista com o próximo ano e menos cansado que nos anos anteriores. Que teve, em 2022, um ano não só financeiramente mais complicado como de muito estresse emocional, com brigas na ceia de natal, polarização política muito grande, e com uma inflação alta, que dificultava o consumo”, diz Meirelles.

Ele destaca que os mais jovens, aqueles que possuem ensino superior e negros são os mais otimistas entre os pesquisados. “A população negra é a que mais sofre com a inflação de alimentos e também a mais impactada com mudança da política de reajuste do salário mínimo e dos programas sociais. Já os mais jovens e aqueles com ensino superior são aqueles que acompanham melhor a retomada da economia brasileira.”

Pesquisas de opinião que levam em consideração o posicionamento político dos pesquisados mostram que a polarização entre Lula e Bolsonaro se manteve em 2023 e acaba contaminando a visão do entrevistado sobre a avaliação do país – eleitores de Lula enxergam melhoras, enquanto eleitores do ex-presidente são mais pessimistas.

Por mais que a avaliação do governo continue similar à polarização da eleição, o dia a dia é mais tranquilo”

No levantamento do Locomotiva, esta situação pode estar sinalizada na diferença entre os 86% que estão otimistas com a sua própria perspectiva e os que declaram estar otimistas com o Brasil (46%).

Para Meirelles, é preciso levar em consideração que os indivíduos costumam chamar para si a responsabilidade de melhorar a própria vida. “Os problemas são do país, da economia. Mas, quando se fala do que é necessário para melhorar, os esforços individuais lideram, por mais que as pessoas saibam que é papel do Estado trazer igualdade de oportunidades, da iniciativa privada criar emprego etc. Mas também compreendem que as coisas não caem do céu e que é necessário arregaçar as mangas.”

Por outro lado, nota, o fato é que o cotidiano das pessoas é mais tranquilo. “Por mais que a avaliação do governo continue similar, em números, à polarização da eleição, o dia a dia é mais tranquilo. Isso significa que a percepção sobre os entraves para a vida melhorar diminuiu. Por isso, o otimismo floresce”, diz.

Pesquisa Datafolha do começo de dezembro mostra avaliação positiva de 38% para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva após 11 meses de governo. O resultado indica manutenção de praticamente os mesmos percentuais de aprovação desde o início do mandato.

Nesse sentido, ele vê paralelo com o início do segundo mandato de Dilma Rousseff. “Em 2014, Dilma ganhou uma eleição muito apertada contra Aécio Neves, e o Brasil também saiu muito dividido. Havia apoio ao ProUni, o Minha Casa, Minha Vida, o Mais Médicos, o então Pronatec, bandeiras da gestão petista, mas sem apreço a Dilma. Lula também sai de uma eleição disputada, com um Brasil dividido e uma rejeição a seu nome que não encontrou em eleições anteriores. Tem dificuldade maior de governar e unificar o país que era dividido. Nesse cenário, é natural que pessoas que confiam menos em seu líder chamem a responsabilidade sobre a melhora para si e menos para o governo”, argumenta.

Apesar disso, a avaliação positiva sobre 2024 se impõe, também fundamentada na satisfação com o ano que passou. A pesquisa mostra, ainda, que metade dos entrevistados (52%) disse acreditar que 2023 superou um pouco ou em muito as expectativas, ante 31% que consideraram que ano foi pior ou muito pior que o esperado. Oito em cada dez dizem ter concretizado suas promessas para o ano que passou: 74% melhoraram sua alimentação, 66% fizeram algo para melhorar sua aparência, 57% conseguiram acumular poupança e 41% iniciaram um curso novo.

No entanto, existem alguns desafios para conseguir concretizar esse otimismo da população e que não dependem das pessoas, diz. Um deles é a democratização da internet. “Uma pesquisa feita em parceria com a PwC mostra que 40% dos brasileiros não acessam ou ficam pelo menos dez dias por mês sem internet. Isso chama abismo digital, e não está ligado apenas ao preço do serviço. Se a pessoa não consegue arrumar um emprego pela internet, se ela não consegue fazer uma pesquisa de preço, pode ser considerada um analfabeto digital, o equivalente ao analfabeto funcional. O fato de não ter um aparelho que consegue operar com a tecnologia 5G também limita.”

O barateamento das tecnologias digitais, prossegue, pode facilitar com que a classe C volte a ser “a menina dos olhos” do mercado, assim como o foi no início da década passada. “Você voltou a ter um processo de aumento da renda, que está sendo feita de forma mais distribuída e, portanto, potencializa mais a microeconomia da população mais pobre.”

A pesquisa foi feita pela internet em dezembro com 1.036 participantes e tem margem de erro de três pontos percentuais. 52% dos entrevistados pertencem à classe C, 30%, às classes A e B, e 18%, à D e E. 53% se declararam negros.

Brasileiro está comprando mais e de forma menos fragmentada

Fonte: Valor Econômico

Foto: Shutterstock

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