Achar a cura para o novo coronavírus está sendo um desafio. Porém, as pausas nas vacinas, para analistas, fazem parte dos ensaios clínicos
A corrida para encontrar medicamentos que combatam a Covid-19 desacelerou nesta semana, quando duas gigantes farmacêuticas sofreram reveses em ensaios clínicos e fizeram pausas nas suas vacinas.
Na terça-feira, a Eli Lilly disse que o recrutamento em um ensaio clínico patrocinado pelo governo de sua terapia de anticorpos foi interrompido por questões de segurança.
O anúncio ocorreu menos de 24 horas depois de a Johnson & Johnson comunicar a interrupção da pesquisa sobre sua vacina experimental porque um voluntário adoeceu.
Os anúncios devem aumentar a preocupação sobre o ritmo muito rápido da busca por medicamentos para prevenir e tratar casos de coronavírus.
Reguladores e farmacêuticas têm sido questionados se a pressão política estaria se sobrepondo ao rigor científico antes da eleição presidencial nos Estados Unidos, em 3 de novembro.
Na semana passada, o presidente Donald Trump, que está em baixa nas pesquisas, classificou, então, os tratamentos com anticorpos como a cura para o coronavírus.
E seu governo tem pressionado muito pela rápida aprovação de tratamentos e de uma vacina.
Complicações nos ensaios clínicos
No entanto, complicações nos ensaios acontecem em um ambiente de intenso escrutínio, disseram executivos e observadores do setor, e a natureza altamente pública da corrida por vacinas e tratamentos dá maior dimensão a eventos que em outros estudos seriam considerados rotineiros.
“Não estou nem um pouco surpreso com essas pausas. Eu ficaria surpreso se não estivessem acontecendo”, disse o diretor do Vaccine Research Group, da Clínica Mayo, em Rochester, Minnesota, Greg Poland.
Investimentos dos EUA
Os EUA investiram quase US$ 18 bilhões na Operação Warp Speed, um programa criado para acelerar o desenvolvimento de medicamentos e vacinas contra o coronavírus.
As empresas trabalham em ritmo sem precedentes para desenvolver produtos complexos e inovadores contra o coronavírus.
A Covid-19 matou mais de 215 mil pessoas nos EUA.
A necessidade de encontrar tratamentos viáveis e maneiras de conter a propagação do vírus se torna, então, mais premente.
Os casos avançam novamente nos EUA e na Europa, antes do que, segundo autoridades de saúde pública, pode ser um inverno perigoso, com a Covid-19 sem controle além da gripe sazonal.
Surtos mais virulentos podem levar a medidas de controle da pandemia mais prejudiciais do ponto de vista econômico.
Alto risco
A vacina da J&J era considerada uma das pioneiras na corrida.
Juntamente com vacinas rivais da Pfizer e da parceira BioNTech, da Moderna, e da parceria AstraZeneca-Universidade de Oxford, sua segurança e eficácia estão sendo estudadas em um grande ensaio.
A expectativa de eficácia da vacina, porém, é alta, já que se espera que seja administrada em dose única.
Algumas vacinas rivais exigirão, no entanto, uma segunda injeção.
O diretor financeiro da J&J, Joseph Wolk, disse, contudo, em entrevista que a empresa não sabe se a pessoa que adoeceu recebeu a vacina ou um placebo.
Disse também que a Johnson mantém seu cronograma de desenvolvimento.
E planeja, então, ser capaz de produzir 1 bilhão de doses por ano.
“Todos estão ansiosos para obter uma vacina contra a pandemia, pelos motivos certos”, disse Wolk, “mas ninguém está buscando atalhos ou sugerindo que haja uma pressão indevida para que isso aconteça”.
Analistas de Wall Street que acompanham a indústria farmacêutica disseram que as pausas são uma característica comum dos ensaios clínicos.
E também que os dados anteriores sobre a vacina da J&J e o tratamento com anticorpos da Lilly eram animadores.
“Paradas nos ensaios são bastante comuns e, embora não saibamos o motivo exato dessa parada, a maioria dos incidentes de segurança geralmente não está relacionada à vacina”, escreveu o analista da Shore Capital, Adam Barker, em relatório sobre a pausa temporária da J&J.
Fonte: Exame
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