Como a reforma tributária afeta o preço dos remédios

A tributação será redistribuída: alguns bens e serviços terão redução de carga, e outros terão aumento

Uma nova proposta de reforma tributária deve ser votada pela Câmara dos Deputados nesta semana. O que está em discussão é uma reforma dos principais impostos e contribuições sobre o consumo. Veja quais as principais mudanças para consumidores, empresas e entes públicos:

A reforma vai aumentar a carga tributária?

A proposta contém travas que asseguram que a carga tributária total sobre o consumo não aumentará. A tributação, no entanto, será redistribuída: alguns bens e serviços terão redução de carga, e outros terão aumento.

Como fica a tributação de remédios, alimentos, escolas e transporte público?

Esses quatro tipos de bens e serviços estão na lista dos que terão tratamento diferenciado, com redução de alíquota, isenção e/ou cashback (devolução do imposto). Também haverá alíquota reduzida para serviços de saúde e atividades artísticas e culturais nacionais. O governo calcula que, com isso, a carga desses itens fica igual à atual ou pode ser reduzida.

Quais os outros bens e serviços com tratamento diferenciado?

Estão na lista a aplicação de regimes especiais para construção civil, setor imobiliário, serviços financeiros, empresas de seguros, combustíveis e lubrificantes. Também estão mantidos o Prouni (educação), o Perse (setor de eventos) e a Zona Franca de Manaus.

Como fica o imposto de energia e telecomunicações?

Para as empresas, esses insumos passam a gerar crédito tributário, reduzindo a carga final dos seus produtos e serviços. Esses setores também poderão usar crédito para eliminar a tributação em cascata.

A classe média vai pagar mais imposto?

Cálculo do Ipea mostra que a reforma reduz a carga de 90% da população e aumenta a tributação apenas dos 10% mais ricos.

Como fica a tributação dos serviços de streaming?

A reforma acaba com a tributação maior de TV a cabo, energia e internet em relação ao streaming e da venda de veículos em relação ao aluguel de carros, por exemplo.

Qual a redução de imposto para os mais pobres?

O Ipea estimou que uma alíquota única já diminui a carga dos mais pobres sobre os tributos da reforma. Com o cashback, é possível reduzi-la pela metade.

Produtos como cerveja e cigarro ficarão mais caros?

Segundo o novo texto divulgado na noite desta quarta, será criado um imposto seletivo, que será aplicado sobre produtos considerados prejudiciais à saúde, como cigarros e bebidas alcoólicas, além de itens prejudiciais ao meio ambiente.

A reforma tributária vai gerar inflação?

O Ministério da Fazenda calcula que, na média, a reforma tem efeito desinflacionário. Ao eliminar distorções e possibilitar uma melhor organização da atividade econômica, reduzirá custos dos empresários e, com isso, permitirá a redução de preços ao consumidor final.

A reforma tributária vai acabar com empregos?

Segundo o Ministério da Fazenda, a reforma vai gerar um crescimento adicional da economia estimado entre 12% e 20%, num período de 10 a 15 anos. Isso significa em média R$ 470 de renda a mais por mês para cada brasileiro, além de 12 milhões de novos empregos.

A reforma prejudica empresas do Simples Nacional e os MEI, como manicures e cabelereiros?
Não. O Simples Nacional e o MEI serão mantidos. As micro e pequenas empresas podem adotar o novo sistema da reforma apenas para recolhimentos dos novos tributos, aproveitando créditos de insumos. Essa é uma boa opção para quem tem clientes que também são pessoas jurídicas.

A outra opção é continuar a recolher tudo dentro do Simples no sistema cumulativo, o que pode se aplicar a pequenos comércios e prestadores de serviços.

Nos dois casos, o imposto recolhido na venda para outra empresa vira crédito para esse cliente, o que pode reduzir o preço de alguns serviços.

A reforma vai prejudicar o agronegócio?

Pequenos produtores rurais, que representam quase 99% dos estabelecimentos agropecuários, estão isentos, assim como as cooperativas.

O exportador agropecuário terá a devolução do tributo quando o produto for vendido para outro país. Hoje, nem todo o dinheiro é devolvido. Além disso, há resíduos tributários embutidos no preço dos insumos que representam cerca de 12% do preço.

A reforma vai prejudicar o setor de serviços?

Para os prestadores de serviço que fazem parte do Simples (cerca de 90%) a adesão ao novo sistema é opcional e pode até reduzir sua carga.

Os serviços de meio de cadeia, aqueles prestados a empresas, terão redução de custo, pois os prestadores desses serviços passarão a se creditar dos impostos pagos por seus fornecedores e transferir integralmente o crédito para os tomadores de seus serviços.

Serviços como saúde, educação e transporte público receberam tratamento favorecido. Com isso, estima-se que o impacto de aumento da carga fique restrito a cerca de 1% das empresas do setor

A reforma tira a autonomia dos estados e municípios?

Estados e municípios vão gerir um tributo compartilhado (IBS), que é a fusão do ICMS com o ISS. Cada governador e prefeito terá liberdade para reduzir a alíquota geral, mas não poderá discriminar o setor que será beneficiado. Estímulos ao desenvolvimento terão de ser feitos agora via orçamento, de forma transparente, e não com distorções no sistema tributário.

Produtos que têm cadeira de produção mais longa e empresas que compram mais insumos vão pagar menos tributos?

Não. A reforma acaba com a cumulatividade e faz com que a tributação seja a mesma, independentemente do tamanho da cadeia e da quantidade de insumo. Terá mais crédito tributário a empresa que pagou mais imposto na etapa anterior de produção.

Há quanto tempo a reforma tributária do consumo está em discussão?
Desde e a Constituinte de 1988 já houve várias tentativas de implantar no Brasil um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) nesse formato. A proposta atual (PEC 45) foi apresentada em 2019 pela Câmara dos Deputados. O texto atual também incorpora parte da proposta do Senado de 2019 e do projeto de governo Jair Bolsonaro de 2020.

Que países utilizam esse sistema?

O modelo de IVA proposto está presente em mais de 170 dos 193 países do mundo.

Por que todos os países da UE usam o IVA?

A maioria dos seis países originais da União Europeia usava diferentes formas de tributação indireta, com impostos em cascata. Isso criava um entrave à ideia de ter um mercado único.

Quando há impostos em cascata (tributo incidindo sobre tributo) é impossível determinar o valor real do imposto efetivamente incluído no preço final do produto. Com isso, há o risco de um país subsidiar (deliberada ou acidentalmente) suas exportações, superestimando os impostos reembolsáveis. Normalmente, a venda a outros países é desonerada com a devolução do tributo recolhido na cadeia de produção.

Para criar um mercado único e eficiente, segundo a União Europeia, era necessário um sistema tributário transparente, que garantisse a neutralidade tributária e permitisse o desconto do valor exato do imposto de exportação.

Como são as alíquotas na UE?

A legislação da UE exige que a taxa geral do IVA seja de pelo menos 15%. A alíquota reduzida deve ser de pelo menos 5%, aplicada a uma lista de bens e serviços (e não de setores) definida pelos países. Alguns países mantiveram outras taxas para produtos específicos. A Comissão Europeia é responsável por assegurar a correta aplicação das regras.

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Fonte: Sampi

Foto: Agência Brasil

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