Como funciona o antiviral tecovirimat contra monkeypox, aprovado pela Anvisa

Medicamento deve ser tomado nos cinco primeiros dias de sintomas para maior eficácia

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a dispensa de registro para que o Ministério da Saúde (MS) importe e utilize no Brasil o medicamento antiviral tecovirimat para tratamento da varíola dos macacos.

A decisão unânime da diretoria colegiada foi definida na última quinta-feira (25).

De acordo com a Anvisa, o produto a ser importado é o mesmo autorizado nos Estados Unidos para a empresa SIGA Technologies, fabricado pela Catalent Pharma Solutions, localizada em Winchester, Kentucky.

O Brasil deve receber o medicamento para ampliar o combate ao surto da doença a partir de parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

O tecovirimat, que foi desenvolvido para a varíola comum, foi licenciado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para varíola dos macacos em 2022, com base em dados em estudos em animais e humanos.

No entanto, o medicamento ainda não está amplamente disponível.

Medicamentos antivirais contam com propriedades capazes de reduzir a ação de vírus no organismo humano.

O combate à infecção pode ser feito a partir do bloqueio na invasão das células ou pelo enfraquecimento da replicação viral, ações que contribuem para impedir a evolução e o agravamento das doenças.

Os antivirais devem ser utilizados na fase inicial da infecção, de preferência, entre o primeiro e o quinto dia do aparecimento dos sintomas.

A maior eficácia dos antivirais está associada à presença de uma maior quantidade de vírus no organismo, ou seja, uma alta carga viral comum no início da infecção.

Como funciona o tecovirimat

O tecovirimat, também conhecido como TPOXX, é um medicamento desenvolvido para o tratamento do vírus da varíola comum. No atual surto de varíola dos macacos, o fármaco tem sido utilizado no combate à infecção da doença. O antiviral está disponível como cápsula oral (200 mg) e injeção para administração intravenosa.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o tecovirimat foi aprovado em 2018 pela Food and Drug Administration (FDA), agência norte-americana semelhante à Anvisa, para o tratamento da varíola em adultos e crianças, mas não para a Monkeypox.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA, mantêm um protocolo de acesso expandido ao medicamento, o que permite o uso para o tratamento precoce da infecção.

Em estudos com animais, o tecovirimat demonstrou diminuir a chance de morte por infecções por ortopoxvírus, como o vírus da varíola dos macacos, quando administrado no início da doença.

Em pessoas, uma série de casos de indivíduos infectados com o vírus monkeypox, que incluiu um paciente tratado com tecovirimat, sugere que o medicamento pode encurtar a duração da doença e a disseminação viral. Os resultados foram publicados na revista científica Lancet.

Quem pode se beneficiar do uso do antiviral

De acordo com o CDC, o tecovirimat pode ser considerado para tratamento em pessoas infectadas com o vírus da varíola dos macacos com doença grave, como casos hemorrágicos, lesões grandes que se encontram, sepse, inflamação do cérebro (encefalite) e outras condições que requerem hospitalização.

A OMS alerta que recém-nascidos, crianças, gestantes e pessoas com deficiências imunológicas podem estar em risco de sintomas mais graves e de morte por varíola dos macacos.

O agravamento da doença também pode afetar pessoas com histórico ou presença de dermatite atópica e com outras condições esfoliativas ativas da pele, como eczema, queimaduras, acne severa e infecção pelo vírus herpes simplex.

O uso do antiviral também pode ser indicado a indivíduos com uma ou mais complicações, como infecção bacteriana secundária, gastroenterite com náuseas e vômitos graves, diarreia ou desidratação ou outras comorbidades.

A OMS recomenda que o uso do tecovirimat seja monitorado em um contexto de pesquisa clínica com coleta de dados prospectiva.

Tratamento de suporte

A varíola dos macacos é, na maioria das vezes, uma doença autolimitada, com sinais e sintomas que duram de duas a quatro semanas.

Já o período de incubação, fase em que a pessoa não apresenta sintomas, dura em média de 6 a 13 dias, mas pode chegar a 21 dias.

Na maior parte dos casos, a infecção não requer internação e o tratamento oferecido é de suporte, com o objetivo de aliviar sintomas, prevenir e tratar complicações.

Um dos remédios usados para tratamento da doença no mundo, o antiviral tecovirimat ainda não está disponível no Brasil.

Os medicamentos que podem ser utilizados em caso de dor ou febre são dipirona e paracetamol. Para casos mais severos, o uso de opioides, sob prescrição médica, pode ser necessário.

O médico infectologista e vice-diretor do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz), Estevão Portela, afirma que a dor é um dos fatores que pode levar um paciente com varíola dos macacos a precisar de internação.

As lesões, principalmente as genitais e anais, podem ser muito dolorosas e limitar a atividade da pessoa.

Os diversos centros de internação criam protocolos para o manejo dessa dor que eventualmente pode ser, dependendo do grau de intensidade, um manejo ambulatorial com analgésicos por via oral, mas eventualmente o ajuste desse tratamento analgésico exige a internação para um tratamento mais intenso com medicações controladas”, explica.

Riscos de complicações

As feridas na pele provocadas pela varíola dos macacos e por outras doenças trazem o risco de infecções secundárias causadas principalmente por bactérias.

As fissuras presentes nas lesões servem de porta de entrada de microrganismos que podem ser nocivos para a saúde.

“Essas lesões acabam gerando áreas expostas na pele e, eventualmente, locais de difícil manejo do ponto de vista de assepsia. Essas lesões podem acabar gerando uma infecção bacteriana secundária. Isso pode necessitar de tratamento antibiótico que, às vezes, precisa ser realizado por via endovenosa em uma unidade hospitalar”, afirma Estevão.

Especialistas recomendam que os pacientes devem buscar atendimento médico diante de sinais de complicação do quadro de saúde.

Eles incluem sintomas como dor e febre persistentes ou o comprometimento da capacidade de engolir, por exemplo.

De acordo com o MS, são considerados critérios clínicos de gravidade o número elevado de lesões (sendo de 100 a 250 um caso grave e mais de 250 muito grave), insuficiência respiratória, sepse (infecção generalizada), confusão mental, aumento do fígado (hepatomegalia), aumento dos gânglios do pescoço com dificuldade para engolir e desidratação.

Fonte: O Progresso e O Globo

Foto: Shutterstock

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