Crescem casos de coronavírus em crianças, e sequelas preocupam

Hospitais infantis públicos e privados registram aumento de casos e de internações de crianças por Covid-19 e por outros vírus respiratórios

Com o retorno às aulas presenciais em fevereiro, a preocupação com a transmissão do coronavírus em crianças preocupam assim como as sequelas deixadas pela doença.

Sem contar que no ambiente escolar, o vírus como o influenza e o sincicial respiratório (VSR), principais causadores de síndromes gripais e bronquiolites, voltaram a circular.

Em 2020, com as crianças em casa, eles tinham praticamente desaparecido. Nesse cenário, o Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, analisa também as chamadas coinfecções: crianças internadas por Covid-19 e com outros vírus, como o VSR e o rinovírus.

“É algo que a gente tem que ficar atento, porque não sabemos o que os dois vírus vão fazer juntos, se vão potencializar a doença. Os primeiros a ver isso foram os hospitais públicos”, diz o infectologista Francisco Ivanildo Oliveira, gerente médico do Sabará.

Outra preocupação dos hospitais infantis é se as crianças infectadas ficarão com alguma sequela da Covid-19, a exemplo do que ocorre com os adultos.

O Sabará, por exemplo, está montando um ambulatório para acompanhar crianças no pós-alta e avaliar eventuais efeitos tardios da doença.

O hospital registrou em janeiro e fevereiro deste ano aumento de atendimentos de bronquiolite no PS (27 para 77) e de internações (11 para 39).

Após sete meses consecutivos (maio a novembro de 2020) sem teste rápido positivo para VSR, no mês passado o hospital registrou uma taxa de positividade de 52%.

O mesmo ocorreu em relação às síndromes gripais/resfriados. O número de crianças atendidas no PS passou de 560, em janeiro, para 991 em fevereiro.

Em relação à Covid-19, a taxa de internação no Sabará neste primeiro bimestre do ano é de 18%, superior à média acumulada em 2020 (13%).

Janeiro e fevereiro somaram 38 internações. Na distribuição por faixa etária, por exemplo, 68% dos pacientes têm entre um e dez anos.

“A maior parte dos casos de Covid não interna, são casos tratados ambulatorialmente. Mas desde o final do ano observamos aumento de casos de Covid no PS e de internação, reflexo das festas”, afirma o infectologista.

De acordo com ele, tanto os casos confirmados de Covid quando as internações registram queda nos números em fevereiro. “Tem chegado muito quadro respiratório com a volta às aulas, mas são por outros vírus, não o coronavírus.”

Situações em alguns hospitais

Em quatro hospitais públicos infantis de SP (os estaduais Cândido Fontoura e Darcy Vargas, o municipal Menino Jesus e da Criança e do Adolescente, em Guarulhos), o aumento de internações por Covid-19 ou suspeita (UTI e enfermaria) passou de 26 para 32 em janeiro e fevereiro, de acordo com dados do projeto.

O Menino Jesus diz que não registrou aumento de casos de Covid-19, mas sim de outras doenças respiratórias, em especial as bronquiolites.

No Cândido Fontoura, desde 1º de janeiro houve 116 internações por síndromes gripais, a maioria (67) por VSR. Só quatro foram por Covid. “A incidência de Covid em crianças é de menor intensidade.

Nesta época do ano, aumentam muito as outras infecções respiratórias, e a gente se prepara para agora isso aconteça concomitante ao aumento de casos de Covid”, diz o médico e diretor do Cândido Fontoura, Edson Umeda.

Segundo ele, a Secretaria de Estado da Saúde deve dobrar o número de leitos pediátricos de UTI na instituição, hoje em dez. Será uma UTI inteiramente dedicada às síndromes respiratórias.

No Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba, maior hospital pediátrico do país, a média mensal de casos confirmados de Covid-19 infantil neste primeiro bimestre do ano já é mais do que o dobro do verificado em 2020: 72 contra 21.

Nos dez meses de pandemia em 2020, foram 84 internações (29 em UTI e quatro em enfermaria). Neste ano, foram 19: quatro em UTI e 15 em enfermaria.

De acordo com o médico infectologista pediátrico Victor Horácio de Souza Costa Júnior, do Pequeno Príncipe, houve uma mudança no perfil das crianças internadas.

No início, a maioria já tinha comorbidades, como doenças neurológicas, imunodeficiências e oncológicas.

“Ainda que proporcionalmente o aumento de casos de Covid-19 em criança seja menor do que em adultos, estamos internando agora mais crianças sem comorbidades. A maioria com quadro de insuficiência respiratória.”

Algumas crianças também têm sido internadas com desidratação. A diarreia é um dos sintomas da Covid infantil.

Coronavírus deixa algumas crianças com sequelas

Uma situação que vem chamando a atenção da equipe médica são casos de crianças que tiveram Covid-19 e, depois, apresentam miocardite (inflamação do músculo cardíaco).

É preciso dar atenção à função cardíaca pós Covid-19. A doença inflamatória multissistêmica aparece de duas ou três semanas após a infecção de Covid sintomática ou assintomática.

Ele afirma que as crianças estão sendo infectadas por Covid-19 fora da escola.

Por isso defende a volta às aulas presenciais com todos os protocolos de segurança, como uso de máscara, distanciamento e higienização das mãos.

A Sindicato dos professores do estado de São Paulo (Apeoesp)) diz que pelo menos 20 docentes morreram devido à Covid-19 desde o início da volta às aulas. Outros 1.861 casos teriam sido registrados em 850 escolas.

Ambiente escolar

De acordo com a Secretaria da Educação, não é possível se afirmar que a escola seja ambiente de contágio, pois não é o único local de circulação das pessoas”.

Para coordenador do centro de contingenciamento do governo paulista Paulo Menezes, há muita coisa a ser fechada antes de tirar as crianças da escola novamente.

Na opinião do presidente do departamento científico de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, é preciso ter bom senso nesse momento em que os hospitais estão em colapso e se cogita lockdown no estado.

No entanto, para ele, o país perdeu o “timing” da volta às escolas, que deveria ter ocorrido no segundo semestre do ano passado.

“Estávamos com tudo aberto, menos as escolas. Isso foi um equívoco. As crianças transmitem menos, agravam menos, raramente são fontes de infecção da introdução do vírus nas epidemias familiares. Mas reparar [o equívoco]no pior momento da pandemia, não faz sentido.

Como conversar sobre higiene e coronavírus com crianças e adolescentes 

Fonte: Folha de S.Paulo

Foto: Shutterstock

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