Constipação: Trânsito lento

Constipação intestinal chega a atingir 40% do público feminino. Predisposição genética, alimentação, fatores comportamentais e hábitos de vida estão entre as principais causas

A inda há quem não se sinta à vontade para falar de constipação. Mas o fato é que esse problema existe e atinge entre 30% a 40% das mulheres. Antes de tudo é preciso esclarecer que a constipação é definida como a dificuldade para evacuar, exigindo um esforço importante.

Além disso, a frequência com que as evacuações acontecem também é fator determinante para indicar o problema. “Com duas ou menos evacuações por semana já se considera constipação. Ela altera todo funcionamento do aparelho digestivo, desde a digestão, até a formação de novos problemas de saúde, uma vez que ao fazer intenso esforço evacuatório, isto pode levar ao surgimento de hemorroida”, adverte a gastroenterologista do Hospital 9 de Julho, Dra. Vanessa Prado, acrescentando que as mulheres são mais acometidas durante o período da gestação, porque o aumento do volume abdominal altera todo trânsito intestinal.

Outros sintomas característicos de quem sofre por constipação são as fezes endurecidas, cólica abdominal, sensação de pressão na região do ânus, má digestão, dor ao evacuar, tenesmo (sensação de evacuação incompleta) e até vômitos, nos casos mais severos.

Segundo o gastroenterologista e secretário geral da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), Dr. Décio Chinzon, a constipação impacta a qualidade de vida das mulheres de diferentes formas.

“Ela causa desde alterações físicas, como distensão e desconforto abdominal, até as de ordem emocional, prejudicando o bem-estar da paciente. Estudos de qualidade de vida mostram claramente que, do ponto de vista de escala de satisfação, a população constipada está em um nível inferior em relação aos indivíduos que não têm o problema”, conta.

Prevenção vem com mudança de hábitos

A adoção de uma dieta rica em fibras, com boa hidratação e a prática regular de atividade física são fundamentais para quem busca prevenir ou tratar a constipação. Aliás, a alimentação tem um papel tão importante que o Dr. Chinzon conta que a prevalência do problema em certos países africanos é baixa em relação a outros ocidentais, onde a ingesta de comida processada e com baixo teor de fibras é maior.

Possíveis causas da constipação

● Hipotireoidismo: diminui o metabolismo celular e deixa trânsito intestinal mais lento.
● Problemas neurológicos: são exemplos os traumas de medula óssea, podem prejudicar a inervação intestinal e seu peristaltismo.
● Doença inflamatória intestinal, como doença de Crohn e Retocolite: pode intercalar constipação com diarreia.
● Doenças do ânus (fissura e hemorroida): o paciente fica constipado por medo de evacuar e ter dor.
● Medicamentos neurológicos para dor: opioides e antidepressivos também prejudicam o funcionamento intestinal.
● Dietas hiperproteicas: geralmente endurecem as fezes.
● Alimentação pobre em fibras.
● Baixa ingestão de água.
● Diabetes.

Fontes: gastroenterologista do Hospital 9 de Julho, Dra. Vanessa Prado; e gastroenterologista e secretário geral da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), Dr. Décio Chinzon

“Para prevenir e tratar também é preciso considerar causas secundárias da constipação, como uma doença metabólica, como o diabetes, ou algum medicamento que possa influenciar na motilidade intestinal e provocar a constipação. Em muitos casos, quando se remove a causa, o trânsito intestinal se normaliza”, diz o Dr. Chinzon.

Ele reforça que a ingestão de água é muito importante e que se deve beber, no mínimo, dois litros por dia. “O ideal é ingerir ao menos 30 gramas da mistura de fibras solúveis e insolúveis ao dia e quando a pessoa não consegue isso por meio da alimentação, os suplementos à base de fibras ajudam bastante’, comenta o Dr. Chinzon.

Além das fibras, os probióticos também são comumente usados para a manutenção adequada da flora intestinal. De acordo com o Dr. Chinzon, ao fazer uso dos probióticos, a paciente deve ter em mente que é preciso um tempo para que eles possam agir, até que a microbiota intestinal se adapte à nova condição.

Se não tratada, a constipação pode originar um fecaloma, que são fezes empedradas, precisando de medidas manuais de remoção por um profissional de saúde adequado. “Além disso, podem-se originar fissuras, hemorroidas e sangramento anal”, finaliza a Dra. Vanessa.