Estudo da Universidade de Helsinki em parceria com a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP) aponta que LSD e psilocina agem da mesma maneira que medicamentos antidepressivos
Pesquisadores descobriram recentemente como psicodélicos, como a droga sintética dietilamida do ácido lisérgico (LSD) e a psilocibina, composto extraído de cogumelos mágicos, podem ser eficazes no tratamento da depressão.
Isso porque as duas substâncias agem sobre o sistema nervoso central da mesma maneira que os antidepressivos.
O estudo foi realizado pela Universidade de Helsinki, na Finlândia, com a participação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da Universidade de São Paulo (USP), e pode ser o ponto de partida para um tratamento mais eficiente de diversos transtornos psiquiátricos, como a depressão e a ansiedade.
O último mapeamento sobre depressão realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 5,8% da população brasileira sofre da doença.
“São mais de 11 milhões de pessoas que poderiam ser impactadas com esse estudo, isso sem falar de outros transtornos psiquiátricos e de outros países”, diz o pesquisador Cassiano Diniz, do Departamento de Farmacologia da FMRP.
A pesquisa, publicada em junho deste ano, é a continuação de um estudo que começou em 2021 e apontou um conjunto de evidências que mostram que os antidepressivos são capazes de se ligar diretamente a um receptor chamado TrkB, que seria ativado de maneira mais eficaz pelo próprio ligante endógeno BNDF. Este mecanismo explica como os antidepressivos estimulam a formação de novas conexões cerebrais.
Segundo Casarotto, a pesquisa ainda pode apontar para uma maior eficácia dos psicodélicos.
“A partir do momento que propomos que os efeitos terapêuticos dos psicodélicos e dos antidepressivos convencionais ocorrem a partir de um mecanismo em comum, podemos supor que os psicodélicos sejam, provavelmente, mais eficazes já que, além de necessitarem de uma dose menor, dado às suas características químicas, essas drogas entram mais facilmente no sistema nervoso central”.
Esta facilidade em entrar no sistema nervoso central é, inclusive, uma característica importante dos psicodélicos, como conta Diniz.
“Sabemos que um dos maiores problemas com o tratamento convencional é que estes tomam tempo para induzir qualquer melhora terapêutica. Ao contrário dos psicodélicos, os antidepressivos encontrados nas farmácias não atravessam a barreira hematoencefálica facilmente e, portanto, precisam de semanas a meses para acumular no sistema nervoso central e alcançar uma concentração que seja suficiente para alterar as conexões cerebrais”.
O que acontece agora?
Apesar dos estudos mostrarem eficácia, um medicamento à base de psicodélicos deve levar anos para, de fato, chegar ao mercado.
Embora o estudo tenha sido realizado com cultura de células e animais, abre uma grande oportunidade para o desenho racional de medicamentos antidepressivos mais eficazes e com menos efeitos colaterais, que tenham como base a estrutura de compostos psicodélicos.
Para Diniz, é preciso combater muito além dos sintomas do transtorno psiquiátrico.
“A gente sabe que as principais causas que induzem à depressão e aos transtornos de ansiedade são a presença dos estressores do dia a dia. É preciso entender que não existe milagre, são duas coisas que precisam acontecer ao mesmo tempo, além do tratamento farmacológico. Primeiro, tornar o ambiente externo o mais favorável possível. Segundo, instruir o indivíduo para que este seja capaz de resignificar o ambiente à sua volta”.
Ainda segundo o pesquisador, o tratamento farmacológico, seja com psicodélicos ou não, vai permitir apenas que as alterações cerebrais induzidas pelos estresses do dia a dia sejam reestruturadas mais eficientemente, de uma forma que favoreça o indivíduo a se adaptar ao ambiente a seu redor e voltar à normalidade de suas funções.