A importância da qualidade no setor farmacêutico

Se queremos ter um setor de saúde forte no Brasil, precisamos zelar pela qualidade dos produtos e pela qualidade do ambiente econômico

Os brasileiros andam desesperançados. Os problemas do País se avolumam: corrupção, incompetência, crise política, economia em ritmo lento, desemprego, indefinição eleitoral. Não faltam obstáculos. E, no entanto, pode piorar. Até a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), talvez a melhor agência reguladora do País, que construiu uma reputação de excelência e seriedade, contribuindo para o desenvolvimento do setor farmacêutico no Brasil, está se deixando contaminar pela “baixa política”.

Um órgão que, de certa forma, andava na contramão de Brasília. Conseguia, na maioria dos casos, manter o interesse público acima de tudo – enfrentou e venceu batalhas memoráveis, visando garantir a qualidade dos produtos farmacêuticos. Agora, a Anvisa parece estar cedendo. E justamente em questões que são fundamentais em qualquer atividade, mas que assumem contornos críticos quando se fala de medicamentos: qualidade e segurança.

Recentemente, a Diretoria Colegiada da Anvisa “flexibilizou” o sistema de controle de qualidade de medicamentos existente no País, abrindo mão dos altos padrões de segurança que exigia de todo o setor e em flagrante contradição com sua orientação histórica. Por três votos a dois, decidiu permitir que os importadores de medicamentos transfiram o controle de qualidade de seus produtos para empresas terceirizadas, sem nenhuma supervisão do órgão regulador.

O desenvolvimento do polo industrial farmacêutico brasileiro dependeu e se baseou em investimentos vultosos que foram realizados pelas empresas estabelecidas no País para atender a essas e outras exigências. Nos países em que a terceirização do controle de qualidade é permitida, os órgãos de fiscalização fazem um rígido controle dos medicamentos após sua venda ao consumidor, o chamado “pós-mercado”. Acontece que, no Brasil, essa fiscalização na prática não é realizada pela Anvisa. Em nosso País, somente o controle prévio das empresas pode atestar a qualidade dos produtos postos à disposição dos consumidores.

Um dos diretores da Anvisa, que defende a terceirização do controle de qualidade, argumentou que “a Anvisa não é o órgão responsável pela política industrial do País” e acrescentou que “um dia o Brasil terá um ‘pós-mercado’ eficiente”.

O diretor cometeu um grande equívoco. A medida recém-aprovada cria uma “antipolítica industrial”, pois é flagrante o nocivo desequilíbrio competitivo que a decisão acarreta às indústrias aqui instaladas, que já investiram bilhões de reais, em favor dos importadores, que não terão de arcar com esses custos para vender seus produtos. Aliás, essa “antipolítica” desestimula o investimento internacional no Brasil.

Esperamos que, no futuro, não venhamos a lamentar o fato de importarmos 95% dos medicamentos consumidos no País, com nossas fábricas fechadas.

Resumindo: se queremos ter um setor de saúde forte no Brasil, precisamos zelar pela qualidade dos produtos e pela qualidade do ambiente econômico. Não chegaremos lá com medidas que enfraquecem os padrões sanitários e prejudicam as empresas que acreditam e investem no Brasil.

Foto: Shutterstock

Contra o tabagismo

Edição 309 - 2018-08-01 Contra o tabagismo

Essa matéria faz parte da Edição 309 da Revista Guia da Farmácia.