Um distúrbio com muitas consequências

A insônia acomete grande parte da população, mas pequenas mudanças de hábitos podem ajudá-la a superar problemas

A maioria dos brasileiros (72%) sofre com insônia, de acordo com estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O problema é caracterizado pela dificuldade de iniciar o sono e mantê-lo de forma contínua durante a noite, ou pelo despertar antes do horário desejado.

“A insônia é diagnosticada por meio de uma avaliação médica detalhada. O paciente deve relatar dificuldade em iniciar o sono, manter-se dormindo ou acordar muito cedo, por exemplo. O médico também investigará os hábitos, histórico e estilo de vida do paciente para determinar se outros problemas de saúde podem estar contribuindo para o quadro”, explica o neurologista do Hospital Nove de Julho, Dr. Rafael Parernò.

Além disso, o paciente tem de se incomodar com essa dificuldade de manter o sono ou com o despertar precoce, gerando uma preocupação.

“[O sintoma] mais importante é essa preocupação. A pessoa passar o dia muito preocupada por não ter dormido bastante e não ter descansado, não vai conseguir vencer o problema no dia seguinte, quando chega a hora de dormir. Apesar de ter dormido menos do que o que ela acreditava ser a quantidade que precisaria dormir, ela está preocupada com não conseguir dormir e essa preocupação gera um estado de alerta que a mantém acordada”, esclarece a neurofisiologista clínica especialista em Medicina do Sono e coordenadora da pós-graduação em Sono do Einstein, Dra. Letícia Azevedo Soster.

Esse estágio de alerta acaba por habituar o cérebro a, ao deitar-se na cama, não relaxar. O corpo se acostuma com o sono, assim como com a fome, que chegará. Por isso, comemos sempre nos mesmos horários. O mecanismo da insônia é como se fosse uma associação aprendida pelo cérebro que, ao se deitar e relaxar, deve estar atento às preocupações – seja algo externo ou não, mas que normalmente acaba girando em torno do próprio sono.

Para o Dr. Parernò, os sintomas também incluem sentir-se cansado e irritado durante o dia. O paciente também pode ter dificuldade em se concentrar e realizar atividades do dia a dia.

“A insônia pode ter um impacto significativo na saúde e qualidade de vida do paciente. A falta de sono adequado pode levar a problemas de saúde, como cansaço crônico, aumento do risco de acidentes, dificuldade de concentração e memória, além de contribuir para o desenvolvimento de problemas emocionais, como ansiedade e depressão.”

A patologia pode acontecer em torno de três vezes por semana e persistir por três meses ou mais. De acordo com a Associação Brasileira do Sono (ABS), nos casos crônicos, ela costuma ter duração média de três anos, podendo estar presente entre 56% a 74% dos pacientes no decorrer do ano e em 46% deles de forma contínua, o que pode implicar em riscos para o desenvolvimento de outras doenças.

Grupos de risco

Fatores como idade, sexo e condição socioeconômica são determinantes na identificação da população que sofre com a insônia, segundo a ABS. O problema é mais comum entre as mulheres e é possível que haja influência hormonal, pois os índices de insônia começam a aumentar nas mulheres – em relação aos homens – a partir da puberdade.

Também é mais comum que a insônia seja diagnosticada em idosos, o que pode ser potencializado pelo fato desse grupo etário ter o sono mais fragmentado e apresentar mais comorbidades que interferem no funcionamento noturno e diurno.

Além disso, a insônia é mais prevalente na população de menor poder socioeconômico, entre desempregados e aposentados e entre os que perderam cônjuges. Nestes casos, não é raro que os pacientes sejam identificados com outros transtornos psiquiátricos e a insônia se apresenta como sintoma secundário de outra condição.

Alguns estudos mostram, inclusive, que o sono cronicamente curto tem no máximo seis horas e poderia causar mais chances de o paciente ter riscos cardiovasculares e até quadros de infartos.

O tempo necessário de sono também é extremamente variável. “Isso é medido de acordo como cada um se sente no dia seguinte. Se se sente bem depois de seis horas e meia de sono, tudo bem. Na população, em média, entre sete e sete horas e meia de sono é o ideal”, cita a Dra. Letícia.

Fonte: Guia da Farmacia
Foto: Shutterstock

A Receita do Empreendedorismo

Edição 374 - 2024-01-04 A Receita do Empreendedorismo

Essa matéria faz parte da Edição 374 da Revista Guia da Farmácia.