Uma dor, inúmeras causas

Veja como identificar, prevenir e tratar a dor de garganta, um dos incômodos mais frequentes da estação mais fria do ano

Com a chegada do inverno, é comum que a população fique mais suscetível à dor na garganta. Acometendo de crianças a idosos, sabe-se que o problema pode ter uma série de origens e que, com a temperatura mais fria, torna-se mais recorrente.

Para esclarecer essas questões, o Guia da Farmácia consultou diversos especialistas no tema, que nos ajudaram a entender o que está por trás do problema.

Em relação às causas, a mudança abrupta do clima, infecções virais e até mesmo o uso excessivo da voz estão entre os principais gatilhos. “Uma das causas mais frequentes são agressões ambientais, como os dias frios e secos. Outra causa comum são as infecções das vias aéreas, como o resfriado comum ou a gripe”, enumera o otorrinolaringologista da Unidade Campo Belo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dr. Márcio Salmito.

“As amigdalites também pode ser virais ou bacterianas; ou terem origem no refluxo “, acrescenta o otorrinolaringologista do Hospital CEMA, Dr. Pedro Augusto Nogueira Vieira.

O otorrinolaringologista do Hospital Albert Sabin, Dr. Fernão Bevilacqua, reforça que as inflamações de origem viral e bacteriana, irritações e até mesmo tumores são causas comuns da dor de garganta. “As inflamações, geralmente, vêm acompanhadas de febre e secreções nas amígdalas e mucosas, enquanto as irritações apresentam vermelhidão do tipo hiperemia. Já as dores de garganta de origem tumoral podem ser identificadas por lesões ulceradas ou abauladas”, diferencia o especialista.

Assim, é fundamental identificar os sintomas que acompanham o problema para obter um diagnóstico correto. O Dr. Salmito menciona que a dor de garganta com rouquidão pode sugerir doenças da laringe, onde ficam as cordas vocais. “Já a dor de garganta com congestão nasal, espirros e febre nos faz pensar em infecções, como Covid-19 e gripe”, complementa o médico.

Portanto, além da dor de garganta, os pacientes podem apresentar sintomas gerais e locais. “Os sintomas gerais incluem dor no corpo, febre, adinamia, inapetência e cefaleia. Já os sintomas locais são caracterizados por dor de garganta, obstrução e secreção nasal, plenitude auricular (sensação de ouvido abafado) e otalgia (dor de ouvido)”, destaca o médico otorrinolaringologista, Dr. Ronaldo R. Américo.

Quando o inverno é vilão

Durante a estação mais gelada do ano, a incidência de dor de garganta aumenta devido ao ar mais frio e seco, que agride a garganta, e à tendência das pessoas de se aglomerarem em ambientes fechados e pouco arejados, o que favorece a propagação de infecções respiratórias.

A otorrinolaringologista no Hospital Dia Campo Limpo, gerenciado pelo Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” (CEJAM), Dra. Caroline Dib Brandão, explica que mudanças climáticas e baixas temperaturas afetam o sistema imunológico, tornando-nos mais suscetíveis a doenças. “Como resultado, a incidência de doenças infecciosas virais e bacterianas aumenta nesta época e pode cursar com dor de garganta”.

Além do clima frio, há fatores de risco específicos que podem tornar algumas pessoas mais suscetíveis ao problema. De acordo com o Dr. Bevilacqua, pessoas com imunidade baixa, crianças em período pré-escolar ou frequentando creches, tabagismo e etilismo (consumo excessivo e crônico de álcool) são alguns dos fatores que podem aumentar a susceptibilidade. “Esses grupos de pessoas devem ficar atentos e tomar precauções para evitar o desenvolvimento de problemas na garganta e manter-se saudáveis”, adverte.

Caminhos para o alívio

Com a chegada do inverno e o aumento da frequência das dores de garganta, é fundamental saber como tratá-las adequadamente. O otorrinolaringologista do Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR), Dr. Henrique Furlan Pauna, enfatiza que o tratamento para aliviar a dor de garganta deve ser baseado em um diagnóstico correto. O médico realizará uma avaliação do paciente e da história da progressão da dor para determinar o tratamento mais específico para cada tipo de causa de dor de garganta.

Em geral, para aliviar a dor de garganta, são utilizados analgésicos e anti-inflamatórios, como o ibuprofeno, cetoprofeno, dipirona e paracetamol, que são medicações suficientes para a grande maioria dos casos, segundo o Dr. Pauna. O uso de antibióticos é recomendado em casos de dor de garganta progressiva, queda do estado geral, dificuldade para engolir, alterações no exame físico e outros sintomas, que geralmente indicam infecção bacteriana.

“É importante ressaltar que a prescrição indiscriminada de antibióticos pode contribuir para a resistência bacteriana e, consequentemente, dificultar o tratamento de infecções futuras. O uso inadequado de antibióticos pode acarretar diversos riscos, como alergia ao medicamento, alteração da microbiota do organismo e a seleção indevida de cepas bacterianas mais resistentes”, alerta o Dr. Pauna.

Existem algumas dicas e alternativas não medicamentosas para aliviar a dor de garganta, como beber bastante líquidos, evitar exposição a fumaças de toda espécie e o tabagismo, repousar, além de mastigar bem os alimentos durante as refeições. O gargarejo com água e sal também pode ajudar a diminuir o edema da faringe e contribuir para o alívio da dor, assegura o otorrinolaringologista do Hospital CEMA, Dr. Cícero Matsuyama.

Além disso, a cultura popular oferece opções naturais, como o mel e a própolis, que possuem atividade anti-inflamatória tópica e podem ajudar a melhorar os sintomas. Muitas pessoas relatam alívio com gargarejos de chá de frutas, como limão, maçã e romã, associados ou não a especiarias, como cravo e canela.

“Esses tratamentos possuem menor embasamento científico e devem ser utilizados com cautela, sem substituir a avaliação médica. No entanto, por serem alimentos de consumo comum e com baixa probabilidade de gerar complicações, como alergias, podem ser uma opção para quem deseja uma abordagem inicial mais natural”, detalha o Dr. Américo.

O Dr. Matsuyama reitera que é fundamental uma avaliação médica criteriosa em casos de evolução clínica desfavorável, presença de sinais e sintomas intensos ou atípicos, ou quando há doenças de base debilitantes para garantir a eficácia do tratamento.

Fonte: Guia da Farmácia
Foto: Shutterstock

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Edição 366 - 2023-05-01 Três décadas de informação

Essa matéria faz parte da Edição 366 da Revista Guia da Farmácia.