Mounjaro: Anvisa aprova nova injeção semanal para tratar diabetes tipo 2

Mounjaro é medicamento injetável indicado para o tratamento de diabetes tipo 2

A Anvisa aprovou nesta segunda-feira (25) o Mounjaro (tirzepatida), da farmacêutica Eli Lilly, um medicamento para tratar o diabetes tipo 2. O remédio é uma injeção semanal que melhora o controle da taxa de açúcar no sangue de pacientes adultos junto a dieta e exercícios.

O Mounjaro age nos receptores de dois hormônios: o GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) e o GLP-1 (peptídeo 1 semelhante ao glucagon).

GIP e GLP-1 são hormônios responsáveis pelo efeito incretina que são secretados pelo intestino em resposta aos nutrientes e atuam melhorando a liberação de insulina após uma refeição.

Os famosos Ozempic e Wegovy (semaglutida) simulam apenas o GLP-1, enquanto o Mounjaro (tirzepatida) imita os dois hormônios. Pesquisadores creem que a razão de a tirzepatida ser tão eficaz em reduzir os níveis de glicose no sangue e induzir a perda de peso é que os dois hormônios que ela imita trabalham de modo sinérgico.

Como a semaglutida, a tirzepatida retarda o esvaziamento do estômago, levando as pessoas a se sentirem saciadas por mais tempo. A tirzepatida também inibe os sinais de fome emitidos pelo cérebro, suprimindo o apetite.

Após essa aprovação regulatória, o medicamento passará pelo processo de precificação junto à CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos) antes de ser liberado para comercialização, por isso ainda deve levar muitos meses para que o remédio esteja disponível nas farmácias. Para se ter ideia, o Wegovy foi aprovado pela Anvisa em janeiro deste ano e ainda não está à venda no país.

“A aprovação regulatória de tirzepatida no Brasil representa um importante marco no tratamento do diabetes tipo 2 e impactará a forma como a doença é tratada hoje”, afirma Bruno Halpern, endocrinologista, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica) e do Departamento de Obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), vice-presidente pela América Latina da WOF (World Obesity Federation), e um dos pesquisadores do estudo com o Mounjaro no Brasil.

“Além de ser a medicação com maior potência glicêmica já aprovada até hoje, ele conseguiu alcançar, na média, que indivíduos tivessem um controle glicêmico semelhantes ao de pessoas sem diabetes.”

Os estudos clínicos

Estudos clínicos mostraram que a tirzepatida apresentou resultados sem precedentes na redução da taxa de açúcar no sangue e maior perda de peso nos pacientes com diabetes tipo 2.

A aprovação foi baseada nos resultados do programa SURPASS, um conjunto de 10 estudos clínicos de fase 3 que recrutou mais de 19 mil pacientes com diabetes tipo 2 em todo o mundo, incluindo o Brasil, com a participação de cerca de 1.500 pacientes, mais de 50 médicos investigadores envolvidos, em 65 centros de estudo, em 24 cidades.

No SURPASS-2, o maior estudo do programa, com duração de 40 semanas e que recrutou cerca de 1.900 pacientes adultos com diabetes tipo 2, a eficácia e segurança em pacientes adultos com diabetes tipo 2 foram comparadas a da semaglutida 1 mg.

No início do estudo, os pacientes tinham, em média, diabetes por 8,6 anos, taxa de açúcar no sangue em 8,28% e peso corporal de 93,7 kg. Tirzepatida foi superior à semaglutida no controle glicêmico e na perda de peso em todas as doses estudadas (5 mg, 10 mg e 15 mg).

Os resultados deste estudo foram apresentados no American Diabetes Association 2022 e mostraram que 51% dos pacientes que utilizaram Mounjaro 15 mg alcançaram níveis de açúcar no sangue inferiores a 5,7%, índice encontrado em pessoas sem diabetes, enquanto 20% atingiram esse resultado com semaglutida.

Além disso, 92% dos que usaram Mounjaro 15 mg alcançaram níveis menores que 7%, valor de índice glicêmico recomendado pelas diretrizes médicas para o controle adequado da doença em pacientes com diabetes tipo 2. Pacientes que utilizaram Mounjaro 15 mg perderam 12,4 quilos, o dobro da perda de peso apresentada por semaglutida.

Vale dizer que esse estudo comparou doses diferentes de semaglutida e tirzepatida, dificultando a comparação, destacou Dean Schillinger, professor de medicina e especialista em diabetes na Universidade da Califórnia em San Francisco (EUA), em uma entrevista ao jornal The New York Times em abril deste ano.

Em uma análise exploratória do mesmo estudo, Mounjaro também demonstrou mais rapidez para proporcionar resultados para os pacientes. Participantes do estudo utilizando qualquer dose alcançaram a meta de índice glicêmico abaixo de 7% em apenas oito semanas, quatro semanas mais rápido que semaglutida.

No mesmo estudo, pacientes utilizando Mounjaro (10 mg e 15 mg) alcançaram a meta de atingir pelo menos 5% de redução de peso em 12 semanas, enquanto pacientes utilizando semaglutida levaram 24 semanas.

Mesmo na dose mais baixa de Mounjaro (5 mg), pacientes levaram 16 semanas para atingir esta meta.

O perfil de segurança geral de Mounjaro foi semelhante à bem estabelecida classe de agonistas do receptor do GLP-1. Em todos os braços de tratamento, os eventos adversos mais comumente relatados foram relacionados ao trato gastrointestinal: vômitos e ânsia.

Ainda não está claro, porém, quais podem ser os efeitos de longo prazo do Monjauro. Essa é uma questão urgente, dado que o medicamento precisa ser tomado incessantemente para obter resultados contínuos.

Denise Reis Franco, endocrinologista e pesquisadora do programa de estudos do Mounjaro, reforça que a eficácia no controle glicêmico aliada aos benefícios em relação ao controle de peso no tratamento impactam diretamente a qualidade de vida dos pacientes com diabetes tipo 2.

“Tirzepatida é um novo aliado importante para os médicos e pacientes e pode mudar a forma como tratamos o diabetes tipo 2. Estamos falando em um medicamento que possibilita que o paciente atinja metas glicêmicas semelhantes a de uma pessoa que não tem diabetes e que ajuda a controlar o peso aliado à dieta e exercício. Com isso, a melhora na qualidade de vida é excepcional —em todos os sentidos”, explica a médica.

“A Lilly revolucionou o tratamento do diabetes em vários momentos da história como quando disponibilizou a primeira insulina em larga escala no mundo em 1923 e na introdução da insulina humana em 1982, que foi o primeiro medicamento biológico feito a partir de DNA recombinante”, destacou Luiz Magno, diretor sênior da área médica da Lilly Brasil, em um comunicado à imprensa.

Controle do peso x diabetes tipo 2

Nos EUA, onde o Mounjaro já é vendido nas farmácias há algum tempo, ele vem sendo utilizado por muitas pessoas de modo off label (ou seja, para uma finalidade não indicada na bula) para perder peso —o FDA (agência regulatória americana) só aprovou-o para diabetes. O mesmo que acontece por aqui com o Ozempic (semaglutida). Mounjaro também já está aprovado no Japão e em países da Europa.

De acordo com a edição 2021 do Atlas do diabetes, da International Diabetes Federation, o Brasil é o sexto país com maior número de pessoas com diabetes no mundo, cerca de 15,6 milhões, podendo chegar a 23,2 milhões em 2045.

Hoje, sabe-se que 90% dos pacientes diagnosticados com diabetes tipo 2 possuem sobrepeso ou obesidade. Isso acontece porque o sobrepeso ou obesidade podem levar seu corpo a ter dificuldades em utilizar a insulina produzida por ele e, por consequência, em regular o açúcar no sangue.

“A obesidade é uma doença crônica que afeta a saúde e a qualidade de vida da população mundial, e o excesso de peso é o principal fator de risco modificável que leva ao diabetes tipo 2. Assim, medicações que tenham efeito no peso, em pacientes com diabetes tipo 2, como é o caso da tirzepatida, agregam ainda mais no tratamento, ajudando no controle não só da glicemia, mas de todas as outras complicações que o excesso de peso traz nesses indivíduos”, enfatiza Bruno Halpern.

Em julho, o potencial do Mounjaro para tratar obesidade ganhou reforço com o anúncio dos resultados de dois estudos clínicos de fase 3. A tirzepatida fez adultos com sobrepeso ou obesidade perderem até 26,6% do peso em comparação com placebo. Junto à medicação, as pessoas passaram por uma mudança intensiva de estilo de vida.

Mais uma vez, um medicamento atinge resultados similares ao de uma cirurgia bariátrica, o que é considerado extremamente promissor por médicos e cientistas. Antes, a retatrutida havia alcançado 24% de emagrecimento.

“Apesar da segurança observada em estudos, a medicação não é isenta de efeitos colaterais indesejáveis. Antes de iniciar a medicação, é necessário individualizar a condição de saúde, bem como a dose e a titulação semanal adequadas para cada caso”, comenta Fernanda Victor, endocrinologista não ligada aos estudos de Monjauro.

É por isso que nos últimos anos as instituições que atuam na área do diabetes, a própria ADA e a Associação Europeia para Estudos do Diabetes (EASD), têm incorporado em suas diretrizes de tratamento a preferência por utilizar medicamentos que agem na redução dos níveis de açúcar no sangue e também proporcionam perda de peso.

Atenção: Monjauro deve ser tomado sob supervisão médica cuidadosa, em parte porque existe o risco de a perda extrema de apetite levar à desnutrição e à alimentação desordenada. E mais: não há pesquisas robustas sobre como a tirzepatida pode afetar pessoas que não têm diabetes ou obesidade.

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Fonte: VivaBem

Foto: Shutterstock

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