O futuro chegou às farmácias – e o consumidor é quem ganha

O bom desempenho na pandemia favoreceu boa captação de recursos pelas farmácias. Agora as redes querem oferecer serviços e focar em prevenção

Durante a pandemia de Covid-19, as farmácias do país se saíram bem. No início do surto de Covid-19, foram beneficiadas pela corrida do consumidor para comprar álcool em gel, máscaras e vitaminas para fortalecer a imunidade.

Depois, viram os pacientes crônicos com diabetes, cardiopatias e obesidade comprar mais medicamentos para seguir o tratamento à risca, já que certas doenças aumentam o risco de morte por coronavírus.

Conforme a infecção se alastrava, registraram também um aumento nas vendas de antidepressivos e ansiolíticos.

Com o isolamento social, o faturamento online das farmácias saltou de 474 milhões de reais em 2019 para 1 bilhão até agora em 2020.

A pandemia e os reflexos nas farmácias

No total, as receitas no varejo farmacêutico cresceram 11% no Brasil de janeiro a julho de 2020 em comparação com o mesmo período do ano anterior, uma das maiores altas do mundo.

Esse desempenho só foi possível porque as farmácias já estavam se preparando para um novo ciclo de crescimento, aumentando a digitalização e investindo em serviços para proteger a saúde dos clientes em vez de apenas tratar as doenças.

Investimentos da Panvel

A Panvel, do Grupo Dimed, fez uma emissão subsequente de ações de 1 bilhão de reais em julho e vai investir 500 milhões em novas lojas, tecnologia e logística.

A d1000, braço de varejo da distribuidora Profarma, forte no Rio de Janeiro e em Brasília, fez seu IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) em agosto, captando 460 milhões de reais. Metade do dinheiro vai para a abertura de lojas.

O que a Pague Menos fez

Também em agosto, a Pague Menos, famosa no Nordeste, captou cerca de 850 milhões de reais em seu IPO, dos quais 60% vão para a inauguração de novas lojas. A rodada de captações não acabou: a paranaense Nissei também prepara seu IPO.

O mercado de farmácias no país é pulverizado, e a avaliação geral é de que há espaço para crescer. As principais redes, reunidas na Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) são donas de apenas 9% das cerca de 80.000 drogarias do país, mas respondem por 45% do faturamento do setor.

Nos últimos 12 meses, as redes ligadas à associação tiveram receita combinada de 55,8 bilhões de ­reais.

Ações da Raia Drogasil

A Raia Drogasil (RD) tem 13,9% do mercado, seguida por Drogaria São Paulo e Pacheco (DPSP), com 10,6% do mercado, e Pague Menos, com 6,2%.

Nos últimos anos, essas redes viveram, dessa forma, um boom de abertura de lojas, expandindo suas regiões de atuação.

Depois da expansão, veio o repuxo: o ritmo de inaugurações diminuiu e muitas lojas ineficientes foram fechadas. Agora a expectativa é de retomada.

As redes da Abrafarma, por exemplo, estão presentes em cerca de 800 cidades e, pelas contas da associação, ainda dá para expandir em mais 1.000 municípios.

Com os aprendizados do período de expansão anterior, as redes se preparam para atacar — e se defender.

No período de 2014 a 2019, as vendas no setor de farmácias no Brasil dispararam 47%, para 26,4 bilhões de dólares, de acordo com a consultoria Euromonitor.

 Ótimas expectativas

As projeções da consultoria para os próximos anos não são tão otimistas. A expectativa é de crescimento de apenas 1,4% entre 2020 e 2024 na projeção em dólar, que é impactada pelo câmbio.

Já na projeções da consultoria Iqvia, compilada pela Abrafarma, o crescimento pode, dessa maneira, chegar a cerca de 9% ao ano até 2024.

Para se manter na frente, a RD vai ampliar seu escopo de atuação. Anunciou, recentemente, a criação de um marketplace da saúde para oferecer de alimentação saudável e suplementos a exames e serviços de telemedicina.

Todavia, a estratégia passa pelo aumento dos serviços oferecidos nas farmácias, pela aproximação das unidades físicas do consumidor e pela expansão dos canais digitais.

Hoje, cerca de 7% das vendas da rede são feitas pela internet.

Dessa maneira, a meta é abrir 240 novas lojas até 2021, com foco em regiões onde tem presença menor, como Norte, Nordeste e Sul. 

A prestação de serviços médicos, como a RD planeja fazer, é a tendência que resume o novo momento das drogarias. Forte nos Estados Unidos — a rede CVS é a maior empregadora de enfermeiros no país —, o segmento ganhou clientes por aqui com a pandemia.

A premissa é que, com medo do vírus e mais preocupado com a própria saúde, o paciente prefira buscar auxílio para questões simples de saúde na farmácia, e não em um hospital.

Consultórios da Panvel 

Na Panvel Clinic, feita de pequenos consultórios no interior de algumas unidades, é possível, por exemplo, medir o índice de glicose e acompanhar o tratamento de doenças crônicas.

São 100 unidades com uma clínica — 50 delas habilitadas para injeções e vacinas. “O ecossistema de saúde se integra cada vez mais. É uma questão de tempo até vendermos planos de saúde e marcarmos raio X”, diz o presidente do Grupo Dimed, Julio Mottin Neto.

Para a d1000, porém, o modelo prioritário de crescimento são as lojas populares, em periferias e perto das favelas cariocas.

O modelo ganhou força na rede após a aquisição das Drogarias Tamoio, que atuam dessa maneira.

São unidades sem estacionamento e cuja organização interna lembra a dos supermercados, com torres de produtos, forte presença de itens de higiene e beleza e muita promoção.

Players estrangeiros

A boa perspectiva para as drogarias brasileiras tem chamado a atenção de redes estrangeiras.

De acordo com fontes do mercado, a mexicana Femsa, por exemplo, está em negociação para comprar a DPSP, segunda maior do país.

Conhecida como a engarrafadora da Coca-Cola, a ­Femsa tem cerca de 3.000 farmácias no México, na Colômbia, no Chile e no Equador. A DPSP, com 1.300 unidades, seria sua entrada no mercado brasileiro.

A DPSP não comenta. No entanto, é bom lembrar que a experiência de empresas estrangeiras por aqui não foi bem-sucedida.

A americana CVS comprou a brasileira Onofre em 2013 e saiu do negócio seis anos depois, repassando a rede para a RD.

A possibilidade de chegada de um player de fora só reforça, então, a necessidade de as redes médias se mexerem.

Em um mercado tão atraente, com empresas capitalizadas que aprenderam com os erros do passado, digitalizadas e em vias de ampliar bastante o leque de produtos e serviços oferecidos, a grande vencedora deve ser a saúde do consumidor.

Impactos da Covid-19 no varejo farmacêutico na América Latina 

 

Fonte: Exame

Fonte: Shutterstock

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