Alívio para as pernas no inverno

Especialistas compartilham dicas para combater o sintoma indesejado na temporada mais fria do ano

À medida que o inverno se aproxima, é essencial redobrar a atenção com a saúde. As temperaturas mais frias afetam diretamente o sistema vascular, provocando a contração dos vasos sanguíneos por meio de um processo conhecido como vasoconstrição, uma resposta natural do corpo para manter-se aquecido.

Esse fenômeno pode dificultar o fluxo sanguíneo, especialmente para as extremidades do corpo, como pernas e pés, levando a sensações de peso e dor nessas áreas. Tais condições tornam o corpo mais suscetível ao fenômeno de Raynaud.

“O estreitamento dos vasos sanguíneos responsável por este fenômeno diminui o fluxo de sangue às extremidades, resultando na redução da  oxigenação dos tecidos. Isso pode fazer com que a pele se torne fria, pálida ou cianótica (arroxeada). Sintomas como peso e dor nas pernas,  formigamento persistente e até feridas nos dedos são sinais de alerta que demandam uma consulta com um cirurgião vascular, indicando um quadro de maior gravidade”, detalha o cirurgião vascular e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), Dr. Luciano Amaral Domingues.

Sensação de dor e peso

A sensação de dor e peso nas pernas surge como um sintoma-chave indicativo de problemas na circulação sanguínea devido a condições vasculares. Desta forma, essa dor, que se manifesta durante caminhadas e se alivia com o repouso, sinaliza uma potencial complicação vascular.

“A presença de dor constante nos pés ou dedos, inclusive em momentos de inatividade, pode alertar para uma condição circulatória severa, ameaçando a integridade da extremidade afetada se não receber o tratamento apropriado”, esclarece o membro titular da SBACV, Prof. Dr. Marco Aurélio Grudtner.

Segundo o Dr. Domingues, essa patologia afeta aproximadamente 3% a 5% da população, com uma incidência maior entre mulheres jovens e indivíduos que lidam com estresse emocional e ansiedade.

Além disso, condições vasculares como a Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP), isquemia cardíaca e hipertensão são suscetíveis de piora durante períodos de frio intenso. A presença de fatores de risco, como obesidade, níveis elevados de colesterol, diabetes e tabagismo, também desempenha um papel significativo no desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Quadros de risco

Para o cirurgião cardiovascular do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande de Sul (PUCRS), Dr. Rubens de Araújo, a grande preocupação em casos de má circulação é com o segmento arterial, devido ao risco de perda das extremidades. “O coração funciona como uma bomba que direciona o sangue pelas artérias até o pulmão, onde é filtrado antes de retornar ao coração. Em seguida, o sangue é distribuído pelo corpo por meio das artérias, alcançando órgãos, músculos, ossos e pele”, esclarece.

“O trajeto que o sangue realiza até chegar às células é o mais crítico, pois um fornecimento inadequado de sangue pode interromper o funcionamento celular, levando ao risco de amputação dos membros”, acrescenta o especialista.

O Dr. Araújo enfatiza a importância de um acompanhamento médico criterioso e de um planejamento cuidadoso para o sucesso do tratamento. “A terapia consiste no uso de medicamentos e, para situações mais graves, procedimentos endovasculares são considerados. Esses procedimentos visam reestabelecer o fluxo sanguíneo nas artérias que suprem as extremidades afetadas”, conclui.

Cuidados preventivos

Para mitigar os sintomas associados a problemas circulatórios, o gelo apresenta duas propriedades benéficas. Primeiramente, a capacidade vasoconstritora pode ser fundamental, especialmente em casos de pernas pesadas provocadas por esforço físico ou alterações na circulação, que frequentemente resultam em hematomas e inchaço. “O uso de compressas frias facilita a contração dos vasos sanguíneos, reduzindo assim o fluxo de líquidos para fora desses vasos”, esclarece a fisioterapeuta Walkíria Brunetti.

Além disso, o gelo pode oferecer um efeito anestésico,  diminuindo a dor ao atenuar a transmissão dos impulsos nervosos. “Para usufruir desse alívio, recomenda-se aplicar a compressa por aproximadamente 20 minutos”, sugere Walkíria.

Em contraste, o calor de um banho ou compressa possui efeitos distintos, agindo como vasodilatador e favorecendo a circulação sanguínea. É particularmente útil para tratar hematomas e inchaços que surgem mais de 48 horas após a lesão, além de ser eficaz na melhora de processos inflamatórios.

“A água ou as compressas quentes também desempenham um papel importante no alívio de dores musculares, promovendo o relaxamento muscular”, comenta Walkíria, recomendando o uso do calor principalmente para dores crônicas. A aplicação deve ser feita com cautela para evitar queimaduras na pele, com uma duração ideal de 15 a 20 minutos.

Medidas simples

Já o especialista em Cirurgia Vascular e Angiorradiologia e Cirurgia Endovascular pela SBAVC, Dr. Rafael Apoloni, enfatiza medidas simples que podem ter um impacto significativo na saúde vascular.

“Elevar as pernas acima do nível do coração por 15 a 20 minutos, três vezes ao dia, é uma técnica que faz a diferença para promover o retorno venoso e linfático”, explica. Ele destaca a importância da gravidade como aliada na circulação sanguínea, auxiliando na movimentação de fluidos do corpo.

Além disso, a importância de uma dieta balanceada não pode ser subestimada. “Evitar alimentos ricos em gorduras ou sal é essencial, pois podem contribuir para a retenção de líquidos e o aumento da pressão arterial”, alerta o Dr. Apoloni. Uma alimentação saudável é fundamental para a manutenção da saúde vascular.

A movimentação regular e o alongamento são importantes para evitar o prejuízo à circulação decorrente de longos períodos na mesma posição. “É aconselhável se movimentar ou levantar a cada 50 minutos para estimular o fluxo sanguíneo”, aconselha.

Por fim, ele ressalta a importância da consulta médica diante de qualquer alteração ou desconforto. “Um diagnóstico precoce e uma intervenção adequada podem evitar a progressão dos sintomas e assegurar um tratamento que seja eficaz”, finaliza o Dr. Apoloni.

Meias de compressão: para que servem e como escolher?

Indicações

De acordo com o JOBST Brasil, as meias de compressão exercem pressão nas pernas, auxiliando o retorno do sangue dos pés ao coração.

Como agem nas pernas?

Elas atuam como uma bomba contra a força da gravidade, melhorando a circulação sanguínea. São úteis em diversas condições médicas, incluindo:

  1. Sensação de pernas pesadas, doloridas ou inchadas.
  2. Insuficiência venosa.
  3. Histórico de trombose ou síndrome pós-trombótica.
  4. Presença de varizes.
  5. Gravidez.
  6. Períodos pós-operatórios com mobilidade reduzida.
  7. Idosos com circulação comprometida.
  8. Pessoas que permanecem muito tempo sentadas ou em pé.
Contraindicações

Não são recomendadas para pessoas com isquemia, doença arterial avançada, insuficiência cardíaca congestiva não controlada, flebite séptica não tratada, e condições que desaconselhem o aumento do retorno venoso. Também podem ser inadequadas para quem tem intolerância ao tecido das meias.

Uso correto

Deve-se colocá-las ao iniciar o dia e removê-las antes de dormir, evitando o uso durante a noite. A escolha do nível de compressão ideal deve ser feita por um profissional da saúde, baseada no histórico clínico do indivíduo.

Níveis de Compressão
  • Baixa (15-20 mmHg): para pernas cansadas, pesadas e propensas a inchaço; veias reticulares.
  • Média (20-30 mmHg): alívio de sintomas de varizes, edema; indicada no início do tratamento de tromboflebite superficial e pós-cirúrgico.
  • Alta (30-40 mmHg): para edema severo, prevenção de úlceras venosas, tratamento de Insuficiência Venosa Crônica (IVC) e sequelas.

Fonte: Guia da Farmácia

Foto: Shutterstock

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