A quantidade de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos com obesidade no Brasil chegou a 13,3 milhões. Esse número é maior do que a população da cidade de São Paulo. Reconhecida como doença crônica pelas principais organizações e associações médicas nacionais e internacionais, a obesidade atinge mais de 600 milhões de pessoas no mundo, mas ainda não havia um tratamento medicamentoso aprovado para adolescentes no Brasil. Nesta semana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a ampliação do uso de Saxenda® (liraglutida 3.0 mg), medicamento indicado para o tratamento da obesidade, para jovens a partir de 12 anos, tornando-se o primeiro medicamento indicado para esta faixa etária no país.
Desde 2016, Saxenda® é comercializado no Brasil para o tratamento da obesidade em adultos, associado à reeducação alimentar e exercícios físicos. Produzido pela Novo Nordisk, empresa de saúde dedicada a promover mudanças para vencer o diabetes e outras doenças crônicas graves, como obesidade e distúrbios hematológicos e endócrinos raros, Saxenda® é um análogo do GLP-1, hormônio que é liberado em resposta à ingestão de alimentos. O medicamento age principalmente no hipotálamo (região do cérebro), regulando o apetite, diminuindo a fome e aumentando as sensações de plenitude e saciedade após a alimentação.
Novo medicamento para obesidade
Até o momento, porém, crianças e adolescentes que lidam com a obesidade, muitas vezes, não tinham opções suficientes de tratamento, explica Rocio Coletta, gerente médica de obesidade da Novo Nordisk. “Os tratamentos disponíveis atualmente para crianças e adolescentes com obesidade eram limitados e havia necessidade de mais opções que pudessem ajudar esses jovens a alcançar e, principalmente, manter uma perda de peso clinicamente relevante, com impactos positivos na sua saúde atual e futura”, explica a médica.
Para analisar a eficácia e a segurança do medicamento em adolescentes, foi realizado um estudo chamado SCALE TEENS, que avaliou os efeitos de Saxenda® em jovens entre 12 e 18 anos durante 56 semanas. O medicamento se mostrou seguro para uso em adolescentes, sendo náuseas o evento adverso mais prevalente, que tendem a ser transitórias com o uso contínuo da medicação. Ao final do período, o grupo de adolescentes recebendo Saxenda® atingiu cerca de 4,3% de redução no IMC, enquanto o grupo que recebeu placebo apresentou um aumento de 0,35% no IMC.
Uma das formas de diagnosticar o estado nutricional de crianças e adolescentes é por meio da tabela de escores-Z (ou desvios-padrão de IMC), considerando dados ajustados para sexo e idade. Uma redução a partir de 5% do peso corporal pode ter benefícios significativos para a saúde, que incluem melhora em fatores de risco cardiovasculares e metabólicos.
Por que tratar a obesidade na adolescência?
A pandemia do novo coronavírus mostrou que a obesidade é uma doença que merece atenção e tratamento adequados e deixou ainda mais evidente que este cuidado precisa vir desde a juventude. Adolescentes com obesidade correm um risco maior de desenvolver problemas de saúde ao longo da vida, uma vez que 84% deles terão obesidade na idade adulta e, por isso, precisam de acompanhamento médico de longo prazo.
“A obesidade é uma doença crônica e, como qualquer outra, deve ter tratamento e acompanhamento médico contínuo, com ou sem medicação, para mantê-la sob controle. Por conta disso, quanto mais cedo o jovem adotar hábitos de vida mais saudáveis, conseguir reduzir e manter o peso de forma adequada, menores serão as chances dele ser um adulto que tenha outras patologias associadas, como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e até determinados tipos de cânceres, diminuindo sua qualidade e expectativa de vida”, afirma Rocio.
Assim como em adultos, as causas da obesidade na adolescência são multifatoriais. A doença pode ser desencadeada por fatores genéticos, endócrinos, ambientais, psicológicos e neurológicos. Dessa forma, o tratamento também precisa ser multidisciplinar, envolvendo diversas especialidades além do endocrinologista, como nutricionista, educador físico, psicólogo, entre outros. Apenas os médicos especialistas estão aptos a avaliar e indicar o tratamento adequado para cada indivíduo.
Foto: Shutterstock
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