O papel dos farmacêuticos como agentes de saúde da comunidade

Mais do que um ponto de venda de medicamentos, as farmácias se fortalecem cada vez mais como estabelecimentos de saúde e têm, na figura do farmacêutico, um profissional próximo e de confiança da comunidade

O farmacêutico sempre exerceu um papel importante enquanto promotor da saúde da comunidade presente no entorno das lojas,constituindo uma relação de confiança que nasceu junto com a natureza desta profissão.

Mas apesar disso, foi somente em 2014, a partir de Lei 13.021, que dispõe sobre o exercício e a fiscalização das atividades farmacêuticas, que a farmácia foi reconhecida como estabelecimento de saúde.

Desde então, várias iniciativas, como os programas de Vacinação em Farmácia ou ações de manejo de doenças crônicas, têm sido desenvolvidas com o objetivo de resgatar e fortalecer a relação do farmacêutico com a população. Assim, esse profissional, que até pouco tempo estava mais focado nos serviços burocráticos ou como provedor do livro de controlados, fez sua função ir além.

“A pandemia de 2020 acelerou esse processo, na medida em que o farmacêutico foi reconhecido pelas entidades de saúde e também pela população como um ponto importante de apoio na condução das condutas de saúde relacionadas ao Covid-19, sendo uma fonte de informação qualificada e de encontro aos cuidados básicos”, constata o gerente de serviços farmacêuticos da Drogaria Araújo, Fabiano Queiroz, acrescentando que, mais recentemente, com a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 357, o farmacêutico foi inserido, inclusive, na testagem da população para o novo coronavírus, com o uso da tecnologia point of care.

Para a diretora farmacêutica da Attive Pharma, Flávia Buainain Thomazi Franca, estamos vivendo uma época do empoderamento do farmacêutico e, por meio das regulamentações, ele pode prestar um serviço de excelência, agregando cada vez mais valor ao atendimento.

“A cada dia, a farmácia contribui um pouco mais na saúde da população e esse é um caminho sem volta. Só não está mais avançado porque algumas legislações ainda impedem ampliar o leque de serviços prestados pelas farmácias no Brasil”, opina.

O coordenador de Assistência Farmacêutica da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) e CEO da Clinicarx, Cassyano Correr, lembra que, durante anos, a farmácia foi proibida de prestar diversos serviços, até mesmo aferir a pressão arterial.

“Depois que a definição de farmácia mudou, o papel clínico do farmacêutico se expandiu [Resolução 585/2013 – Conselho Federal de Farmácia (CFF)] e a abrangência das ações deste profissional junto à população está ficando cada dia maior. As farmácias criaram espaços privativos de atendimento, ambientes de consultório, investiram em tecnologia e passaram a oferecer uma gama de novos serviços”, comenta.

Nesse sentido, o que se percebe é uma ressignificação do ato de adquirir um medicamento e a tendência é de que a farmácias e envolva cada vez mais na gestão do tratamento e da saúde do paciente e não apenas entregando produtos.

Lições da pandemia

Não há dúvida de que o novo coronavírus deixou o papel da farmácia e do farmacêutico mais evidentes, permitindo que eles pu-dessem mostrar seu potencial no cuidado da saúde da comunidade.

“Uma forma clara de exemplificar isso são os testes rápidos para detecção da Covid-19. Isso foi um grande diferencial para as farmácias e para a comunidade que é atendida pelo profissional de saúde e recebe o laudo e as orientações das mãos desse pro-fissional, ou seja, o farmacêutico”, ressalta Flávia.

Ainda é preciso destacar que, desde o início da pandemia, a farmácia foi tratada como essencial e seus serviços ganharam mais visibilidade. “Em um momento em que muitos se protegiam em suas casas, os profissionais da farmácia passaram a integrar aquela massa de profissionais agora essenciais, até então menos visíveis. Dada a falta de tantos serviços que antes tinham muita importância, a farmácia ganha um status de protagonista na vi-da das pessoas na medida em que cobre necessidades que antes exigiam serviços especializados, seja em beleza, alimentação e bem-estar”, comenta Queiroz.

O atendimento humanizado é algo que também foi reforçado neste momento. Afinal, confiança e acolhimento são palavras que definem bem o que o paciente encontra quando chega à farmácia de sua preferência. E essas são situações bem claras quando se fala em atendimento humanizado.

“O caminho para o atendimento humanizado passa pela em-patia e pelo entendimento das dores e aflições do outro. Nem sempre as pessoas entram em uma farmácia para adquirir um item que lhe traz conforto ou bem-estar. Assim, ao chamar o paciente pelo nome ou ao acolhê-lo no tom de voz, pode-se iniciar um processo de cura e confiança”, afirma Queiroz.

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