Raio X do idoso

A população da terceira idade está crescendo à medida que a medicina avança, ainda assim, a faixa etária requer cuidados especiais para alcançar a longevidade 

Estudos demográficos recentes mostram que o envelhecimento da população é um fenômeno de amplitude mundial, sendo que os muito idosos (com 80 anos de idade ou mais) constituem o grupo etário de maior crescimento. Entre 2000 e 2010, a faixa etária dos brasileiros com 80 anos de idade ou mais cresceu 70%, segundo os dados mais atualizados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

A possibilidade de viver além da média de expectativa de vida no Brasil se dá por conta do avanço no acesso ao tratamento às doenças que mais afetam a população da terceira idade. As doenças infecciosas e os acidentes têm grande impacto na qualidade de vida dos idosos, mas são as doenças crônicas não transmissíveis, como o diabetes mellitus e as consequências da hipertensão arterial, que mais prejudicam a saúde da terceira idade no Brasil. 

“À medida que as pessoas atingem idades avançadas, seu organismo passa a sofrer maiores interferências intrínsecas e extrínsecas, ou seja, influências de fatores internos, do próprio organismo; e fatores externos próprios do ambiente do qual fazem parte. Nesse contexto, o indivíduo torna-se mais frágil e mais suscetível ao aparecimento de patologias, principalmente as doenças crônicas não transmissíveis”, explica a professora e coordenadora de Pós-Graduação em Gerontologia Interdisciplinar da Universidade Veiga de Almeida (UVA) Dra. Maristela Poubel. 

De acordo com o geriatra do Imed – Medicina Diagnóstica, Dr. André Scariot, as patologias que mais acometem os idosos devem ser divididas em cinco grandes grupos: doenças cardiovasculares (42,3%) – que compõem infarto, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e sequelas, todas com proporções parecidas –; seguidas das doenças neoplásicas (17,2%); respiratórias (15,4%), que são as pneumonias e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC); do sistema nervoso (9,4%), como demências; e as causas externas (5,6%) – principalmente quedas e acidentes domésticos. 

A maioria das doenças mencionadas acima pode ser prevenida e/ou adiada com um estilo de vida saudável e tratamentos adequados, mas geralmente não é possível evitar completamente a doença. “Uma vez que a pessoa a tenha, ela vai acompanhar o indivíduo até o fim da vida. Nesse contexto, é importante privilegiar ações preventivas e de tratamento e recuperação que preservem a autonomia da pessoa idosa, ou seja, que permitam à pessoa continuar desempenhando suas atividades sem depender da ajuda dos outros”, explica o Dr. Scariot. 

Prevenção como aliada 

De maneira geral, todas as doenças crônicas não transmissíveis estão relacionadas aos hábitos adquiridos ao longo da vida. “As patologias podem ser evitadas por meio de medidas muitas vezes simples de prevenção. O cuidado com a saúde, com acompanhamento médico regular, a alimentação balanceada, atividades sociais e de lazer, por exemplo, são boas formas de evitar doenças e comprometimentos futuros”, destaca a Dra. Maristela. 

Os hábitos saudáveis estimulam os fatores que proporcionam melhor qualidade de vida e reduzem as chances do surgimento de doenças. “Por isso, é preciso lembrar que, mesmo sem tempo, é preciso comer de forma adequada, evitar alimentos industrializados, bem como o consumo de tabaco e bebidas alcoólicas em excesso. Além disso, o ideal é praticar regularmente exercícios físicos”, complementa o Dr. Scariot.  

A nutrição tem grande relevância na prevenção de doenças na terceira idade, pois condições características desta faixa etária comprometem o estado nutricional dos idosos. Alterações fisiológicas naturais do próprio envelhecimento, enfermidades já presentes, práticas danosas à saúde ao longo da vida (fumo, dieta desbalanceada, falta de atividade física) e situação socioeconômica 

estão entre os fatores que prejudicam os hábitos alimentares e a absorção de nutrientes. 

“A manutenção de um estado nutricional adequado é muito importante, pois, de um lado, encontra-se o baixo peso, que aumenta o risco de infecções e mortalidade, e do outro, o sobrepeso, que aumenta o risco de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como hipertensão, diabetes mellitus e hiperlipidemias”, alerta o Dr. Scariot. 

Já para prevenir outros problemas de causas externas, como quedas e acidentes, a participação da família ou de um responsável é fundamental, principalmente quando há dependência na locomoção. “Nesse caso, os idosos devem ser acompanhados continuamente por seus cuidadores e precisam contar com ambientes adequados para que seja minimizado o risco de acidentes”, lembra o Dr. Scariot. 

Uma vez que a doença já se instalou no organismo, o idoso demanda abordagem e tratamento diferenciados. Assim como crianças e jovens apresentam especificidades e são tratados pelo pediatra, a população com mais de 60 anos de idade deve ser assistida por um geriatra. Esse especialista é capaz de enxergar além das doenças em si, como as demências, a hipertensão arterial, o diabetes e a osteoporose, e tratar também de problemas com múltiplas causas, como tonturas, incontinência urinária e tendência a quedas. 

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Diabetes mellitus tipo 2 

Prevalência: aproximadamente um em cada quatro indivíduos com idade superior a 60 anos é portador de diabetes mellitus tipo 2, com taxas maiores relacionadas às pessoas de mais de 75 anos. Mais da metade dos portadores de diabetes têm mais de 60 anos de idade.  

Tratamento: consiste no uso de hipoglicemiantes orais e insulinas. Os antidiabéticos orais podem ser divididos de acordo com seu mecanismo de ação:  

• Estimular a secreção de insulina (sulfonilureias e glinidas); 

• Reduzir a resistência periférica à insulina, isto é, aumentando a utilização periférica de
glicose (glitazonas); 

• Diminuir a velocidade de absorção dos glicídeos (acarbose, inibidores da DPP IV); 

• Reduzir a produção hepática de glicose (biguanidas). 

A introdução da insulinoterapia é resultado do inadequado controle da glicemia, apesar da adoção de medidas gerais e dos hipoglicemiantes orais. 

Hipertensão e doenças cardiovasculares (infarto e Acidente Vascular Cerebral) 

Prevalência: presente em mais de 60% dos idosos, encontra-se frequentemente associada a outras doenças, aumentando o risco cardiovascular e, consequentemente, aumentando o risco de infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC). 

Tratamento: considerando a meta da Pressão Arterial (PA) menor ou igual a 139 x 89 mmHg, as recomendações de tratamento das sociedades de cardiologia são: 

 • Hipertensão estágio 1 (PA sistólica 140-159 mmHg ou PA diastólica 90-99 mmHg) pode ser tratada com mudanças de estilo de vida e, se necessário, com um diurético tiazídico. 

 • Hipertensão estágio 2 (PA sistólica >160 mmHg ou PA diastólica >100 mmHg) pode ser tratada com a combinação de um diurético tiazídico e um inibidor da Enzima Conversora da Angiotensina (IECA) ou Bloqueador de Canal de Cálcio (BRA).  

Para pacientes que não conseguem atingir a meta de PA, as doses das medicações podem ser aumentadas e/ou uma droga de uma classe diferente pode ser adicionada ao tratamento.  

Se a meta de PA do paciente não for atingida dentro de um mês de tratamento, aumentar a dose do agente inicial ou adicionar droga de outra das classes recomendadas. Se terapia com duas drogas não obtiver sucesso, adicionar um terceiro agente. 

Em pacientes que não atingirem a meta com três drogas, usar drogas de outras classes e/ou encaminhar para um especialista. 

 Doença de Alzheimer 

Prevalência: aumenta com a idade. As taxas de demência de qualquer etiologia são de aproximadamente menos de 1% em pessoas entre 60 e 69 anos de idade, aumentando para 39% em indivíduos de 90 a 95 anos de idade. A prevalência dobra a cada cinco anos de idade dentro dessa faixa etária. 

Tratamento: atualmente, apenas terapias sintomáticas estão disponíveis para a Doença de Alzheimer, sendo que o tratamento-padrão inclui inibidores da colinesterase (Rivastigmina, Donepezila, Galantamina) ou antagonista NMDA (Memantina).  

Os sintomas secundários, como depressão, agitação, agressão, alucinações, delírios, alterações de sono, podem ser problemáticos. As seguintes classes podem ser usadas:   

• Antidepressivos. 

•  Ansiolíticos. 

•  Agentes antiparkinsonianos. 

•  Betabloqueadores. 

•  Drogas anticonvulsivantes. 

•  Neurolépticos. 

Incontinência urinária

Prevalência: aumenta com a idade e é mais frequente entre as mulheres. Afeta 30% dos idosos na comunidade e 50% daqueles internados em casa de repouso. 

Tratamento: varia de acordo com o tipo de incontinência: 

• Incontinência de esforço: cirurgia, fisioterapia do assoalho pélvico, medidas anti-incontinência e medicações; 

• Incontinência de urgência: mudanças na dieta, mudanças de estilo de vida, fisioterapia do assoalho pélvico e medicações; 

• Incontinência mista: drogas anticolinérgicas e cirurgia; 

• Incontinência por transbordamento: sondagem vesical de alívio; 

• Incontinência funcional: tratar a causa-base. 

As medicações usadas para tratamento da incontinência urinária são: 

• Agonistas alfa-adrenérgicos. 

• Drogas anticolinérgicas. 

• Drogas antiespasmódicas. 

• Antidepressivos tricíclicos. 

• Estrogênio. 

• Bloqueadores alfa-adrenérgicos. 

• Toxina botulínica. 

Disfunção erétil 

Prevalência: o problema afeta 50% dos homens acima de 40 anos de idade, chegando a 67% dos pacientes acima de 70 anos de idade. 

Tratamento: na prática diária, os inibidores da PDE-5 são os mais comumente usados para o tratamento da disfunção erétil. Essa classe de drogas consiste em sildenafil e tadalafila. Reposição hormonal pode ser benéfica em homens com hipogonadismo grave e pode ser útil como terapia adjuvante. Injeção intracavernosa de vasodilatadores também é uma opção, além de prótese peniana. 

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