Dor: A experiência que abala os nervos

A dor é uma das sensações mais desconfortáveis e incapacitantes que se tem conhecimento. Quando a origem é neuropática, a qualidade de vida do paciente pode ser drasticamente reduzida, caso não haja o tratamento adequado

“Experiência sensitiva e emocional desagradável, associada ou relacionada à lesão real ou ao potencial dos tecidos. Cada indivíduo aprende a utilizar esse termo por meio de suas experiências anteriores.” Pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), essa é a definição científica da dor que, na prática, pode se resumir na perda do bem-estar e, até mesmo, na incapacitação dos acometidos.

“A dor compromete a qualidade de vida ao gerar estresses físicos e emocionais para os doentes e seus cuidadores. É uma das principais fontes de investimento de recursos públicos em saúde”, comenta o médico neurologista e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Dr. Daniel Collares.

Segundo dados da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED)*, esse problema afeta, aproximadamente, 30% dos indivíduos durante algum momento da vida e, deste contingente, entre 10% e 40% dos casos, há persistência por mais de um dia.

Grupos de risco para Dor Neuropática (DN)

  • Portadores de diabetes mellitus (30% terão a polineuropatia periférica).
  • Portadores da nevralgia do trigêmeo (2% a 3% da população mundial).
  • Portadores de síndrome fibromiálgica (2% da população feminina mundial).
  • Portadores de hérnia de disco e hérnia de disco cervical.
  • Idosos (embora a doença possa acometer pessoas de quaisquer idades, estatisticamente, esse público tem maior probabilidade de desenvolver DN pelo próprio processo de envelhecimento e comprometimento do sistema nervoso).
  • Alcoolistas.
  • Pacientes oncológicos.

Fontes: neurocirurgião e coordenador do Centro da Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, Dr. Claudio Fernandes Corrêa; e coordenadora do Comitê de Dor Neuropática da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), Dra. Mariana Palladini

Não existem dados estatísticos oficiais sobre a dor no Brasil, mas a sua ocorrência tem aumentado substancialmente nos últimos anos. Ainda de acordo com a entidade, a incidência da dor crônica no mundo oscila entre 7% e 40% da população e, como consequência dela, cerca de 50% a 60% dos que sofrem por dor ficam parcial ou totalmente incapacitados, de maneira transitória ou permanente.

A dor pode ter diversas características e origens. Aquela que nasce de lesão ou disfunção do sistema nervoso (central, periférico ou neurovegetativo), por exemplo, é conhecida como Dor Neuropática (DN). Na América Latina, esta doença afeta 2% da população, sendo que 15 a cada 100 pacientes, que procuram auxílio médico por dor, sofrem de DN**.

“Os sintomas clássicos desse tipo de dor são queimação, choques, alodínea (percebe-se dor decorrente de estímulos que habitualmente não causariam dor), hiperpatia (percepção excessiva ou exagerada da dor provocada por estimulações mínimas) e sensação de anestesia dolorosa”, enumera o neurocirurgião e coordenador do Centro da Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, Dr. Claudio Fernandes Corrêa.

O especialista da ABN acrescenta que, apesar dessa dor ocorrer na região dos nervos afetados, ela pode se irradiar para outras áreas do corpo, sem relação com o ponto de origem, de forma contínua ou intermitente, com flutuação da intensidade dos sintomas.

“Os fatores desencadeantes mais comumente encontrados foram lombalgia com componente neuropático, neuropatia diabética, neuralgia pós-herpética e complicação pós-operatória”, diz.

A intensidade da dor varia de acordo com o paciente e, segundo o Dr. Corrêa, algumas delas podem ser intensas e incapacitantes, dificultando a execução de atividades laborativas e sociais.

“Algumas DNs são tão intensas que podem até levar à tentativa de suicídio, como a gerada pela nevralgia do trigêmeo”, pontua o médico. Essa nevralgia provoca uma das dores de grau mais intenso que se tem conhecimento. Ela é gerada por uma lesão no revestimento do nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade da face, o que acaba gerando choques na região.

“Pacientes com DN podem perder a capacidade de convívio social ou a habilidade no trabalho. Os sintomas são, de fato, incapacitantes e exigem cuidados por toda a vida”, aponta a coordenadora do Comitê de Dor Neuropática da SBED, Dra. Mariana Palladini.

Diversas frentes de tratamento

Os casos de DN podem ter várias formas de tratamento, dependendo da origem. Entre as opções, o Dr. Collares cita os opioides (tramadol, metadona), os antidepressivos (tricíclicos, amitriptilima, nortriptilina), inibidores da receptação de serotonina e noradrenalina (venlafaxina, duloxetina) e anticonvulsivantes (carbamazepina, gabapentina).

A especialista da SBED cita que os opiodes costumam ser os mais potentes. “Os antidepressivos melhoram a memória da dor; e os anticonvulsivantes agem no canal de cálcio, melhorando a condução do estímulo nervoso e, consequentemente, reduzindo a dor”, acrescenta.

Também podem ser usadas as medicações tópicas, como lidocaína e capsaicina. “Esses medicamentos são indicados para pacientes com DN refratária aos tratamentos farmacológicos. A lidocaína intravenosa, por exemplo, pode ser considerada como opção em doses de 5-7,5 mg/kg, por até quatro semanas”, mostra o especialista da ABN.

Novos aliados para neuropatia periférica

Os nervos periféricos, com milhares de fibras nervosas, formam uma das estruturas que contribuem para o funcionamento do organismo, fazendo a conexão do cérebro e da medula espinhal com músculos e órgãos. Entretanto, quando lesionados, prejudicam as atividades do corpo.

Segundo explica a Merck Consumer Health, a neuropatia periférica pode causar formigamento, aumento ou diminuição da sensibilidade ao toque, ao calor ou ao frio, dormência, fraqueza muscular e até mesmo dor com queimação.

As causas e os fatores de risco da enfermidade podem ser múltiplos e incluem condições, como: genética (membro da família com neuropatia); doenças crônicas, como diabetes; toxinas ambientais, alcoolismo; deficiências, por exemplo, de vitamina B; e outras causas inexplicáveis.

Passo a passo para aplicação de injetáveis em farmácias

Algumas formas de Dor Neuropática (DN) podem ter injeções locais como indicação de tratamento e elas podem ser aplicadas em farmácias. Esse tipo de serviço fideliza o cliente. Acompanhe como proceder nesses casos.

QUAL A INFRAESTRUTURA NECESSÁRIA?

O ambiente deve garantir a privacidade do atendimento e contar com dimensões, mobiliário e infraestrutura compatíveis com os serviços a ser oferecidos; além de mesa e cadeiras para o farmacêutico, usuário e acompanhante (se for o caso).

O ambiente também deve ser provido de lavatório com água corrente e dispor de toalha de uso individual e descartável, sabonete líquido, gel bactericida e lixeira com pedal e tampa. O local não deve possuir acesso ao sanitário.

PROFISSIONAIS NECESSÁRIOS

É fundamental que o estabelecimento conte com farmacêuticos aptos para a prestação desse serviço, a fim de atender às necessidades de saúde do paciente. Os balconistas também podem prestar esse serviço, desde que tenham autorização expressa do farmacêutico diretor ou responsável técnico.

NORMAS PARA PRESTAR ESSE SERVIÇO

As farmácias devem desenvolver a Declaração de Serviços Farmacêuticos (artigo 81, da RDC 44/09), sempre que for realizada a aplicação de injetáveis. A declaração deve conter identificação do estabelecimento [nome, endereço, telefone e o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ)], identificação do usuário ou do responsável legal, o serviço farmacêutico prestado, data, assinatura, carimbo do farmacêutico responsável pelo serviço com nome e número de inscrição no Conselho Regional de Farmácia (CRF).

QUAISQUER INJETÁVEIS PODEM SER APLICADOS?

Não há uma lista que defina quais medicamentos injetáveis podem ser administrados nas farmácias, mas há restrições com relação aos medicamentos para uso exclusivo em ambiente hospitalar, devendo-se, neste caso, observar as especificações contidas na rotulagem do produto.

POR QUE AS INJEÇÕES PODEM CAUSAR DOR?

Em geral, as injeções costumam doer e são muitos os que atribuem este fato às características do líquido, que, por vezes, é mais viscoso/oleoso. Entretanto, o desconforto pode vir da diferença de composição do medicamento e do organismo no local de aplicação, além da diferença do pH do medicamento, apesar de todos os esforços no desenvolvimento farmacotécnico do medicamento em estabelecer um pH próximo da via de administração.

Outra justificativa para a dor fica para formas farmacêuticas classificadas como suspensão, que são partículas sólidas dispersas em um líquido e, portanto, utilizadas em agulhas de calibre maior. Nesse caso, a via intramuscular funciona como um “reservatório”, ou seja, a dispersão do fármaco será lenta e, consequentemente, causará desconforto.

COMO REDUZIR O DESCONFORTO ENTRE OS PACIENTES?

• Abordagem correta

Oriente o paciente sobre o que vai ser aplicado e como vai acontecer a aplicação, para que haja confiança no processo.

• Locais de aplicação

Faça um rodízio para evitar áreas doloridas.

• Orientações ao paciente

Deixe o paciente confortável e oriente-o para que fique com a musculatura relaxada no momento da injeção.

• Qualidade da agulha

Esse equipamento deve ter silicone e bisel multifacetado, fazendo com que se reduza o desconforto e a penetração da substância.

• Aplicação do profissional

Garanta que a penetração da injeção seja realizada em movimento único e contínuo, com equilíbrio e firmeza.

• Orientação especial para frasco-ampola

Quando envolve a utilização de medicamento a partir de um frasco-ampola, haverá necessidade da troca da agulha após a retirada do medicamento do recipiente (a tampa de borracha pode danificar a agulha).

Caso seja uma ampola de vidro, deve–se trocar a agulha se houver algum esbarrão contra a parede de vidro. E, na hora da aplicação, o êmbolo deverá ser empurrado de forma lenta e contínua.

• Pós-aplicação

Caso o paciente se queixe de dor e desconforto após a injeção, oriente-o a realizar uma compressa de água quente, porque o calor ativa a circulação, além de ter ação analgésica.

Fonte: farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti

Os acometidos com neuropatia periférica ganharam novos aliados para esse desconforto. O estudo clínico realizado pela Merck (Asian Journal of Medical Sciences, de janeiro de 2018) mostrou que os pacientes com a doença tratados com uma combinação de três vitaminas B neurotrópicas apresentaram melhorias em todos os sintomas da doença. Notou-se alívio de 63% em todos os sintomas e que, quanto mais tempo eles utilizavam o medicamento, aumentava a performance dos resultados.

Segundo o mestre e doutor em ortopedia e traumatologia, livre docente e professor associado do departamento de ortopedia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Dr. Rames Mattar, a conclusão do estudo permite observar uma melhora progressiva considerável dos sintomas nesse grupo de pacientes. “É muito importante estudar uma droga que está em uso e ver os limites adequados de expectativa de resultados em relação ao tratamento”, diz.

Citoneurin, medicamento de prescrição médica dirigido aos cuidados do nervo da Merck Consumer Health, e que é composto por uma combinação de três vitaminas B neurotrópicas, foi lançado pela primeira vez na Áustria, em 1962, e, atualmente, é líder de mercado mundial nesta área. De acordo com a fabricante, a composição de Citoneurin têm ajudado pessoas com DN ou que precisam regenerar a saúde do nervo que está comprometida.

Foto: Shutterstock

Doenças de inverno

Edição 305 - 2018-04-01 Doenças de inverno

Essa matéria faz parte da Edição 305 da Revista Guia da Farmácia.