Desafios do mercado farmacêutico no pós-pandemia em pauta no 6º Fórum Abradilan de Desenvolvimento Empresarial

Em um mercado altamente competitivo, é fundamental prestar muita atenção nos dados que mostram de onde vem as melhores oportunidades e o que já está ficando saturado

O 6º Fórum Abradilan de Desenvolvimento Empresarial começou na última terça-feira (19/10) e trouxe à tona debates importantes para o crescimento do mercado farmacêutico como um todo.

O objetivo do Fórum é promover, mesmo que virtualmente, debates que sejam capazes de aprofundar os assuntos mais relevantes do mercado e assim, inovar a aprimorar a distribuição no Brasil.

O evento promove conhecimento de alto nível e debates que proporcionam o desenvolvimento de toda a cadeia farmacêutica. “Reunimos representantes da indústria e os distribuidores, o que faz com que a gente consiga promover ideias conjuntas, que elevem os padrões de produtos e serviços para o mercado”, disse o presidente da Abradilan, Jony Sousa, em seu discurso de abertura.

No primeiro dia de evento (19/10), o patrocinador exclusivo, por seis anos consecutivos, a Neo Química (Hypera Pharma), representado pelo vice-presidente de marketing e vendas da Hypera Pharma, Luiz Clavis, apresentou sua história e transformação com a chegada de novos portfólios, como as aquisições feitas da Sanofi, parte de marcas OTC e parte de RX, fazendo com que a empresa se transformasse. “Nesse mercado, é preciso saber se reinventar. A Hypera aproveitou todo esse ambiente de transformação para crescer e ganhar participação. Em 2018, quando virou a Hypera Pharma, era a quarta empresa do mercado farmacêutico de varejo. Em 2019, com a vinda de Buscopan, nós fomos para terceiro. Agora, em 2021, com a vinda do portfólio da Takeda, nós já já ocupamos o segundo lugar e a nossa ambição é ser a primeira empresa do ranking. Só com a chegada de Takeda e Buscopan, a empresa cresceu 60%.”

O executivo reforçou que a empresa tem cobertura de 96% do varejo farmacêutico, o que está muito ligado ao trabalho com a Abradilan. “A distribuição da Neo Química, a essência dos negócios da Neo Química se desenvolveu através dos distribuidores da Abradilan. Ainda temos muitas frentes para abrir e a oportunidade de fazer um trabalho conjunto é enorme”.

O diretor comercial da Neo Química, Jeandré Cohen, destacou a vocação da empresa, que é trazer saúde a um preço justo para toda a população. “Ela foca 100% na distribuição regional, o que faz com que nosso produto chegue em cada cantinho do nosso Brasil. É o laboratório que mais vende em unidades do mercado farmacêuticos, são 400 milhões/ano. A expectativa é fechar 2021 vendendo quase R﹩ 2 bilhões, crescendo 23%, para 2022, a meta é crescer 24%, com foco em lançamentos e vitaminas. Dois grandes produtos estão prontos para chegar ao mercado que são, melatonina e rivoraxabana.”

A diretora executiva da NeO Química, Ana Biguilin, anunciou que a melatonina Neo Química está pronta, aguardando apenas a liberação final da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “No ‘day one’ da liberação nós já teremos o produto para faturar. Já estamos fazendo pré-pedidos junto com a Abradilan. É um mercado novo no Brasil, mas promissor. Para uso noturno, dissolve rápido na boca, tem zero acúcares, com sabor de maracujá que dá aquela calma para uma noite de descanso. Super novidade para incrementar os nossos negócios.”

Ela reforçou a importância da categoria de vitamina D e anunciou que houve um reposicionamento de preço da linha de Dropy D, o que já provocou uma mudança na curva de crescimento.

Tem ainda novos produtos em similares, que entram para o final/começo de ano: Ibufran (ibuprofeno caps gel), Ivernel (ivermectina), Desrinite (fexofenadina). Em genéricos, ivermectina, fexofenadina, quetiapina e a rivaroxabana, que acabou de cair a patente, mercado grande, de quase R﹩ 680 milhões. “Estaremos entre os primeiros laboratórios de genéricos a lançar essa molécula.”

Planejamento Estratégico Abradilan

Diretamente voltado aos associados, um tema muito importante esteve em pauta: o planejamento estratégico da Abradilan, que norteará as ações nos próximos cinco anos. O diretor executivo da entidade, Ivan Coimbra, o presidente da associação, Jony Sousa e o diretor financeiro, Vinícius Andrade relataram que o planejamento reforça que a Abradilan tem diversos desafios. Um dos pontos mais importantes é o de apoiar os associados na busca, no debate, no entendimento e na validação dos movimentos do mercado para que rapidamente sejam competitivos em qualquer cenário de mudanças.

A entidade quer, por exemplo, que a indústria utilize mais as estruturas da distribuição para operar o trade na farmácia, para isto precisa ter funcionalidades e inovações operacionais que suportem esta visão.

Influências da pandemia

É fato que a pandemia teve uma influência direta nas decisões do consumidor das farmácias. A procura por itens relacionados ao contexto, como os testes de Covid-9, e os remédios vinculados à imunidade, como vitaminas, minerais e suplementos, impulsionaram o crescimento da categoria de não-medicamentos, sinalizou o diretor de relacionamento na IQVIA, Cesar Bentim, em sua apresentação.

“Diante desse cenário, é preciso sempre ficar atento às janelas de oportunidades para aumentar as vendas da categoria e melhorar o mix de acordo com a atual demanda”.

As incertezas econômicas geradas pela pandemia motivaram também a demanda por medicamentos genéricos. “As dez principais corporações para o mercado de distribuição representam 56% das vendas, sendo que a liderança nesse ranking é da NC Farma, que tem 50% do portfólio baseado em genéricos. Em segundo lugar aparece a Hypera Farma, seguida da Eurofarma e da Sanofi. Além disso, a L´Oréal também está entre os 10 principais players do mercado, confirmando a importância do segmento de não-medicamentos para o canal farma”, destacou Bentim.

Não à toa, a estratégia do grupo Abradilan está mais focada em RX genéricos, seguida de RX Trade e RX promovido. Por outro lado, os distribuidores nacionais focam mais em RX promovido.

Em um mercado altamente competitivo, é fundamental prestar muita atenção nos dados que mostram de onde vem as melhores oportunidades e o que já está ficando saturado.

“Distribuição e varejo precisam estar em constante contato para entender as necessidades do mercado. O varejo está mais próximo do consumidor, que tem se preocupado em envelhecer de forma saudável e ter qualidade de vida”.

Durante a apresentação, Bentim enfatizou que “a competição cada vez mais acirrada da concorrência independente do porte da cidade e isso é positivo para os bons resultados”.

A consistência na distribuição de forma equilibrada é diferente da venda direta, que tem maior concentração nas grandes cidades. Por outro lado, é importante destacar que 27% das vendas e distribuição chegam em cidades pequenas.

Sendo assim, as independentes, que estão concentradas nas pequenas e médias cidades, precisam fazer um trabalho dirigido para os consumidores e ter a sensibilidade de encontrar o melhor mix de produtos que atendam sua demanda.

“Não há certo ou errado. Cada associado precisa avaliar seu próprio negócio para ser mais assertivo nas escolhas e isso requer um trabalho tático e criterioso de estratégias”.

Embora o cenário macroeconômico não seja tão animador, Bentim destacou em sua apresentação a capacidade de resiliência do mercado. Para ele, “crescer 0,5% em um mercado tão competitivo de um ano para o outro é prova de um trabalho muito consistente e relevante”.

“O empreendedorismo está na veia do brasileiro e o associativismo vem tendo boa performance pela consistência de serviços”.

Fim da pandemia e o e-commerce

Com o avanço da vacinação contra o Covid-19, o consumidor está voltando às ruas. Embora as vendas pelo delivery e e-commerce demonstraram um crescimento exponencial durante a pandemia, “a cada 100 compras nos canais digitais, mais de 70 foram retiradas em loja, demonstrando que o consumidor ainda quer visitar o ponto de venda”, ressalta.

“Sendo assim, uma boa estratégia via Whatsapp pode obter um resultado mais satisfatório do que o consumo pelo e-commerce“.

Reforma Tributária: tema aqueceu interação do público

Uma enquete feita com a plateia revelou que 82% dos convidados não acreditam na aprovação da reforma tributária ainda neste ano, contra apenas 12% que se mostraram otimistas.

Na contramão desse resultado, o diretor do Centro de Cidadania Fiscal (CCIF),

Bernard Appyacredita que, embora o cenário político esteja desfavorável, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 110/2019, do senador Roberto Rocha (PSDB-MA), tem plenas condições de ser aprovada.

“Aliás, seria uma maravilhosa herança que esse governo deixaria para o próximo. Apesar dos vários temas que estão sendo discutidos atualmente, o posicionamento do governo federal é determinante para aumentar as chances de aprovação”.

Para o economista tributarista e ex-deputado federal Luiz Carlos Hauly, o sistema tributário brasileiro é um Frankenstein e impede o crescimento da economia, portanto “eu aposto na aprovação da reforma”.

“O atual modelo levou o Brasil ao mais baixo crescimento do mundo. Nos últimos 10 anos, o País teve o pior desempenho econômico por conta dessa injustiça tributária, que é a responsável por provocar todos os efeitos indesejáveis desse sistema”.

Na opinião do economista, os dois grandes destaques da proposta são a cobrança eletrônica 5.0 e devolução do imposto para as pessoas de baixa renda.

“É um projeto liberal e social que atende a todos: políticos, empresários e sociedade. Por isso, temos a obrigação de fazer a tarefa de casa e apoiar a reforma tributária”.

Para Appy, um dos pontos cruciais da reforma é entender que ao eliminar as distorções que existem no atual sistema tributário e implementar regras mais homogêneas todos os setores vão se beneficiar, inclusive o de medicamentos.

“A simplificação dos impostos de bens e serviços terá um impacto muito positivo para o crescimento do País. Além disso, teremos um sistema menos complexo e com menor chance de diferentes interpretações”.

O diretor do CCIF acrescenta que a transição aconteceria de forma progressiva, com dois anos de teste e depois um período de cinco anos para a transição das alíquotas.

“Como há muitos investimentos feitos com base na atual tributação, é preciso dar um tempo para as empresas se adequarem”.

O que propõe a PEC 110/2019?

A proposta de emenda constitucional extingue nove tributos* e propõe dois novos: o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e o Imposto Seletivo (IS). Sendo assim, a PEC 110 vai simplificar o sistema de arrecadação e reduzir a carga tributária, resume Appy.

“Muitos problemas da economia brasileira estão relacionados às inconsistências do sistema tributário. Portanto, a reforma vai refletir em uma nova sociedade de renda e consumo”.

Além de destravar a economia, o novo sistema tributário também beneficia o trabalhador de baixa renda, que recebe até dois salários mínimos, e é o mais penalizado com a carga tributária.

“O governo foi criando um excesso de tributos que costumo chamar de monstro tributário, por isso é fundamental simplificar e diminuir a tributação em cima dos mais pobres”.

Para ele, somente com a atualização do sistema tributário o Brasil é capaz de voltar a crescer, concluiu.

*Veja os 9 impostos

  • IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados);
  • PIS (Programa de Integração Social);
  • Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social);
  • ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços);
  • ISS (Imposto Sobre Serviços);
  • IOF (Imposto sobre Operações Financeiras);
  • Pasep (Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público) Cide-Combustíveis;
  • Salário-Educação.

Fonte: Abradilan

Foto: Divulgação

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