As dez principais dúvidas sobre diabetes

Lista aborda as principais questões sobre a doença que atinge milhões de brasileiros

A endocrinologista Carla Tamanini Ferrari desenvolveu uma lista com as perguntas mais recebidas em seu consultório sobre a diabetes. O objetivo é conscientizar para uma doença que cresceu mais de 60% da população brasileira anos últimos anos e é causada pela baixa produção ou dificuldade da ação do hormônio insulina, que controla a quantidade de açúcar no sangue.

“É extremamente importante se cuidar e o esclarecimento sobre o tema, além da ida constante ao médico para manter os exames em dia. Se a doença não for bem controlada, pode ser responsável por diversas complicações, entre elas alterações cardiovasculares como infarto e acidente vascular cerebral (AVC), a diálise por insuficiência renal crônica e a cirurgias para amputações dos membros inferiores, por exemplo”, alerta a especialista.

Cerca de 415 milhões de adultos viviam com diabetes no mundo e o Brasil é o 4º país do mundo com o maior número de diabéticos, de acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Federação Internacional do Diabetes. “É possível prevenir a doença mantendo o peso ideal, com o controle da hipertensão e colesterol alto alinhado a uma alimentação balanceada e saudável com a prática de atividade física regular”, explica a endocrinologista Carla Tamanini Ferrari.

  1. Qual tipo de diabetes mais grave?

Existem diversas classificações e tipos de diabetes e podem variar conforme sua prevalência e causas. A maioria dos tipos de diabetes se não tratados adequadamente podem levar a consequências e complicações graves. No entanto, Diabetes tipo 1 devido à ausência de insulina em determinada fase, pode ser fatal quando não tratado e pode ser considerado mais grave nessa situação. Ela corresponde a 5 a 10% dos casos de diabetes melito e é causada pela destruição das células beta pancreáticas que ficam incapazes de secretar insulina de forma suficiente para manter a normoglicemia.

  1. Qual o tipo mais comum da doença?

O diabetes tipo 2 corresponde a 90 a 95% dos casos de diabetes e é a causa mais comum, com aumento progressivo nos últimos anos devido à epidemia de obesidade, maus hábitos alimentares e sedentarismo. Causado pela resistência à insulina em um indivíduo com incapacidade pancreática de manter os níveis séricos de insulina altos o suficiente para vencer essa resistência e manter a glicemia no valor normal.

  1. Comer açúcar demasiadamente, é o que gera diabetes?

Qualquer alimento que consumido em excesso e que consequentemente leve ao aumento do peso e aumento da resistência insulínica pode causar a doença, inclusive o açúcar. Vale reforçar que o diabetes pode também ter causas autoimunes, genéticas ou secundário a outras doenças.

  1. Quem é diabético não pode ingerir bebida alcoólica e nem comer açúcar? De jeito algum?

Não há proibição completa, o que se orienta é equilíbrio e evitar quantidades exageradas. Além disso, também é indicado o controle por insulina em alguns casos. “Foi lançado pela Sociedade Brasileira de Diabetes um informativo nutricional aos pacientes, em comemoração ao Dia Mundial do Diabetes. Nele é possível acessar um conteúdo didático e com diversas as orientações importantes”, sugere Carla Ferrari.

  1. Quais sintomas da doença?

Depende muita da fase da doença e como se encontra os níveis de glicemia. Em geral, pacientes com hiperglicemia muito elevada podem cursar com glicosúria – quando a urina pode aparecer com odor adocicado e há relatos de formigas no sanitário, por exemplo – diurese osmótica, que provoca quadro de poliúria, que são mais de 3 litros de urina por dia, e polidipsia – sede intensa – como mecanismo protetor contra a desidratação.

A hiperglicemia aumenta o risco de vários tipos de infecções e destaca-se as vulvovaginites e infecções urinárias. Os pacientes insulinopênicos, ou seja, com redução dos níveis circulantes de insulina (diabéticos tipo 1, diabéticos por doença pancreática ou diabéticos tipo 2 em estágio avançado sem reserva pancreática) podem cursar com polifagia (fome excessiva) e perda progressiva de peso. Já pacientes com diabetes de longa data (há mais de 5 a 10 anos), principalmente aqueles com mau controle glicêmico ou predisposição genética maior às complicações micro e macrovasculares da doença, podem apresentar sintomatologia decorrente das complicações crônicas do diabetes.

  1. Magros podem desenvolver diabetes? Qual relação com o peso?

O excesso de peso está mais relacionado com o surgimento do diabetes tipo 2 secundário com a resistência periférica à ação da insulina, principalmente em tecidos muscular, adiposo e no fígado. Basicamente, a gordura visceral é um tecido que produz e aumenta a concentração sérica de citocinas inflamatórias sistêmicas, como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), interferon-gama (INF-gama), interleucina-1 (IL-1), IL-6, entre outras as quais dificultam a ligação da insulina ao seu receptor e consequentemente reduzindo a sua ação. No entanto, pacientes magros podem desenvolver outras formas de diabetes como o tipo 1 (autoimune) ou outras formas genéticas como o diabetes monogênico.

  1. Tem cura para diabetes?

Até o momento ainda não foi desenvolvida a cura, mas há o controle da doença. Em dezembro de 2017 o Conselho Federal de Medicina (CFM) reconheceu, por meio da Resolução nº 2.172/2017, a cirurgia metabólica como opção terapêutica para pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2 (DM2) que tenham índice de massa corpórea (IMC) entre 30 kg/m2 e 34,9 kg/m2, desde que a enfermidade não tenha sido controlada com tratamento clínico. Em pacientes submetidos ao procedimento cirúrgico foram relatados alguns casos de remissão do diabetes, no entanto não podemos chamar de cura.

  1. É uma doença hereditária?

Sabe-se que a maioria dos casos de diabetes melito é desencadeada pela combinação de fatores genéticos de herança poligênica (vários genes) associados com fatores ambientais (sedentarismo e obesidade, por exemplo). No entanto, há determinados subtipos de diabetes melito que estão relacionados com genes específicos que, por si sós, acarretam mudança na metabolização da glicemia, sendo conhecidos como diabetes monogênicos, por exemplo. As formas monogênicas de diabetes melito são: Defeitos genéticos na ação da insulina e Defeitos na função de células betapancreáticas, sendo o principal exemplo o diabetes da maturidade com início no jovem (MODY).

  1. Todos podem ter diabetes? Ou atinge uma faixa etária específica?

Pode atingir todas as faixas etárias desde recém-nascidos a idosos, a depender da etiologia do diabetes. Porém o mais prevalente é o diagnóstico após os 40-50 anos associado ao ganho de peso, sedentarismo, uso de bebidas alcóolicas, entre outros hábitos nocivos à saúde.

  1. Existe diferença em diabetes nas mulheres em relação aos sintomas ou tratamentos? É possível engravidar e amamentar normalmente?

Nas mulheres, um dos sintomas da doença descompensado pode ser a irregularidade menstrual ou até a ausência de menstruação. As mulheres com diabetes bem controlada e com suas glicemias dentro dos valores recomendados podem engravidar, com a orientação de serem avaliadas pelo endocrinologista antes da concepção já que algumas medicações são proibidas na gestação e na amamentação. No entanto, em mulheres com diabetes descompensado existe um risco elevado de abortos, malformações, partos prematuros e outras complicações com bebê, assim como mais riscos de complicações maternas, como no momento do parto e de infecções durante a gestação e no pós-parto.

Foto: Shutterstock

Fonte: Dra. Carla Tamanini Ferrari

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